
Atenção, esta análise contém spoliers!!
Um mergulho na mente do vilão e um tapa na cara da sociedade
Quando a DC anunciou um filme do Coringa todos perguntaram por quê? Ao conhecer a verdadeira origem o personagem não vai perder a graça? Onde está Jared leto (Esquadrão suicida)?
Todas perguntas justas, mas o que ninguém estava preparado era para uma obra prima. Um filme relevante, ambicioso, visceral, com críticas sociais pesadas e que provavelmente terá um impacto em produções futuras do gênero.
Violento, depressivo, assustador e definitivamente ambíguo. Talvez seja preciso ver mais de uma vez para captar as diferenças entre o que é realidade e o que é imaginação na história contada sob os olhares de Arthur Fleck.
A História
Arthur Fleck é um cidadão comum, que carrega muitos traumas da infância e sofre da síndrome pseudobulbar (reação involuntária e incontrolável de riso ou choro que é desproporcional a um evento) tenta ganhar a vida como palhaço enquanto sua carreira de comedia stand up não decola e cuida sozinho de sua mãe doente numa Gotham no fim dos anos 70, começo dos anos 80, tomada pela pobreza, sujeira e criminalidade alta. Seu sonho é se apresentar em um programa de tv do apresentador Murray Franklin (Robert de Niro).
O filme acompanha a transformação de Arthur, mostrando como uma sociedade consegue abandonar, maltratar e excluir uma pessoa passo a passo, levando ao limite alguém que já possui distúrbios mentais até o ponto da quebra e além. Após ser demitido de seu emprego Arthur, voltando de metro para casa, é atacado por 3 rapazes e acaba os matando. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne é o maior representante.
O que funcionou?
Joaquin Phoenix: Um coringa sensacional, bem diferente dos também sensacionais Heath leadger e Jack Nicholson. Candidato ao Oscar?
Todd Phillips: É o mesmo diretor de se beber não case? Quem diria.
Realidade ou ficção? Ao acompanhar uma história através dos olhos de uma pessoa perturbada, a linha entre realidade e ficção fica por diversas vezes invisível.
Trilha sonora: eficiente, chega a se destacar em várias partes do filme
Filme para maiores de 16 anos: ao entrar nesta faixa, permitiu contar com precisão a história de Arthur.
Síndrome Pseudobulbar: associar a risada do Coringa a uma doença elevou o personagem e deu uma nova camada ao já complexo palhaço do crime. Cada risada traz um misto de dor e constrangimento.
A culpa é da Sociedade: A criação do Coringa é diretamente ligada ao ambiente e males da sociedade moderna. Exclusão, bullying, violência e desprezo deram o empurrão final em Arthur para a loucura.
Ambiguidade final: Na minha opinião (mas cabe interpretação, e isso é o que deixa o filme ainda mais interessante!), todos os momentos em que Arthur recebe validação são imaginários. Isso inclui os relacionamentos com Sophie e inicialmente com Murray, além da cena final sendo encarada como um herói do povo após o acidente.
O que não funcionou?
Acredito que a única coisa que não funcionou foi a reação de algumas pessoas e críticos que encontraram uma valorização da violência (algo similar ao que vimos em Rambo: Last Blood) onde não há e se perderam quanto aos reais recados do filme.
Coringa é um marco no cinema e se não for sabotado pela Academia por ser um “filme de HQ” receberá algumas indicações ao Oscar.
O filme já está em cartaz em todo o território nacional.