
(Este review foi feito a três mãos, com pitacos de Artur Palma e Fê Domeniche =)
Antes da chegada de Mega Man Legacy Collection, ainda em 2015, eu publiquei aqui no Kapoow toda a minha empolgação com (mais uma) coletânea do robô azul da Capcom. Na verdade, acho que fui na contramão de muita gente, que torceu o nariz com aquele papo de “Ah, mais uma coletânea, porra, Capcom!” e até entendo o motivo. Já passou da hora do Blue Bomber ganhar um jogo inédito, mas o fato é que também passava da hora do personagem ganhar uma coletânea realmente boa, já que Mega Man Anniversary Collection (lançado na época para o PlayStation 2 e Gamecube) era um pacote bem meia boca que focava na quantidade, mas a qualidade da emulação era bem imprecisa. Legacy tinha a chance de se redimir nesse aspecto, mesmo oferecendo somente os jogos do Nintendinho.
Não sabe quem é Mega Man? Lançado nos anos 80, com sua primeira versão para o Nintendinho, o jogo se consagrou entre os muitos jogos de plataforma da época pelo carisma do personagem, pelo design de fases criativo e uma mecânica de escolha de arma certa para cada chefão final que até lembrava o Jankenpon. Além disso, apesar do herói ser “bonitinho”, a dificuldade dos inimigos e o design maldito das fases fez muita gente girar seus controles e os arremessarem longe de raiva. Falar de Mega Man é falar sobre precisão nos saltos, nos tiros e no sangue frio para combinar ambos e escapar de tiros, buracos, armadilhas no cenário e – slowdowns – tudo ao mesmo tempo.
Mega Man Legacy Collection é, enfim, uma coleção com os seis jogos lançados para o NES, com direito a alguns filtros (para quem gosta). Já no 3DS, o jogo fica ainda melhor, porque a telinha diminuta do portátil (mesmo na versão XL) casa muito bem com os gráficos de 8 bits, que trabalhavam na época em uma resolução de 256×240. Como há tão poucas linhas de resolução, é até normal que, quanto menor a tela, melhor a experiência visual.
Veja o vídeo-review completo da versão 3DS aqui, com a Fê Domeniche:
Enfim, a emulação perfeita!
De acordo com a Capcom, todo o jogo foi refeito para não ser apenas uma emulação, mas para usar todo o hardware dos consoles e do portátil da Nintendo, o que garante que o jogo rode o tempo todo como se fosse num NES, com a imagem completamente lisa. Contando, inclusive, com o limite de personagens na tela que o Nintendinho suportava, ou seja, os mesmos slowdowns que rolavam em 1980 aparecem aqui. Ou seja, não tem nada a ver com aquela emulação medíocre que foi lançada no PlayStation 2 e GameCube no Mega Man Anniversary Collection que tinha a imagem borrada e várias travadas no meio. Se você acha que slowdown é ruim, esqueça, esse jogo não foi feito pra você. Trata-se de uma obra pensada no entusiasta, no cara que decorava exatamente quando o jogo entraria em câmera lenta para tentar tirar vantagem da situação.
Ok, não vou mentir. A Capcom foi camarada e pensou, sim, nos jogadores atuais. Tanto é que ela incluir muitas facilidades que não tinham antes, como a possibilidade de continuar de onde parou via save game. Antes, para retornar ao começo da fase onde você morreu, era só via password.

Se o gráfico ostenta todo o charme dos serrilhado dos sprites vistos no console de 8 bits, o som também continua com os deliciosos chiptunes nas músicas. Aliás, a parte de áudio também está até melhor do que no console original, especialmente por conta da limpeza que os canais de Áudio e Vídeo do NES dificilmente entregavam nos infames moduladores de RF (vamos combinar, cabo de áudio e vídeo nessa época era um luxo para poucos). Jogar com um bom fone é um destaque a parte, principalmente por causa das trilhas incríveis do Mega Man 2 e 3.
Sem dúvida nenhuma, os melhores jogos da coletânea são o Mega Man 2 e o 3, os dois possuem as melhores trilhas e o design de fases é algo próximo à perfeição. Mas, além deles, o Mega Man 4 e 6 também merecem carinho, ao tentarem inovar com novas armas, como poder carregar o tiro, e habilidades ao Mega Man e ao seu fiel cachorro, Rush, como a armadura do sexto jogo que muda muito do estilo de jogo.
Vamos celebrar!
Além dos jogos, coletânea funciona como um serviço ao legado do mascote da Capcom com centenas de scans em alta resolução de esboços de produção, artes conceituais, manuais escaneados, ilustrações promocionais, designs descartados de Robot Masters e um banco de dados com informações sobre os inimigos. Esse último é uma galeria que descreve cada um dos inimigos, mostra qual arma é a fraqueza dele e o quanto de energia ele tem. É uma curiosidade interessante mas que acaba com um pouco da graça do jogo que é descobrir (morrendo) qual arma é boa contra cada chefe.

E tem coisa inédita aí. O pacote nos consoles ainda inclui um Challenge Mode com inúmeros trechos remixados dos jogos e um tocador de música com a trilha sonora completa de todos os títulos – com mais de 100 faixas. Fora que o Challenge Mode é um atrativo à parte. Já jogou Mega Man 9 e 10? Ótimo, então você pegou o espírito da série clássica. E esse modo challenge faz algo similar ao visto em NES Remix do Wii U – Ele mistura vários trechos dos seis títulos clássicos do Mega Man, com diversos objetivos de dificuldade crescente que prometem desafiar a galera mais habilidosa.
Mega Man Legacy Collection é um jogo recomendado para todos que são fãs do Blue Bomber. Apesar de ser ótimo para quem joga nos consoles, trata-se de uma coleção que acaba combinando demais com o 3DS, pois quase todas as fases são bem curtase é possível salvar seu progresso a qualquer momento, o que faz com que ele se encaixe muito bem em rápidas sessões de jogo. Além disso, a tela menor se “encaixa” melhor no padrão dos sprites tirados dos 8 bits, já que nas grandiosas telas planas de hoje os sprites acabam muitas vezes sendo ofuscados por filtros de suavização que tiram a graça da experiência saudosista.
Nota: 8
[Mega Man Legacy Collection é uma boa para quem não conhece a série, mas que quer começar com pé direito. Vale a pena investir e conhecer alguns dos melhores jogos já lançados para o NES. Agora, se você não liga muito para isso, ou não gosta de jogos antigos, algumas coisas como os gráficos com sprites e slowdowns e a dificuldade alta dos jogos poderão te desmotivar.No 3DS, ficou faltando também um melhor aproveitamento do 3D do portátil, talvez adicionando profundidade aos cenários. E, independente se é no console, ou no 3DS, sentimos falta dos quatro demais jogos da série original na coletânea. Mas, como falei lá em cima, o foco dessa vez talvez tenha ficado na qualidade, e nesse aspecto, não podemos reclamar: Legacy cumpriu sua missão de nos transportar com louvor aos bons e velhos tempos de Nintendinho.]