
Alice in Borderland, lançada em 2020, voltou a fazer barulho após a febre de Round 6, outra série asiática com temática bem parecida e ambas disponíveis na Netflix.
Classificação etária 16 anos, muito sangue, jogos violentos e mortais. Trata-se de uma adaptação de um mangá de 2014 escrito por Haro Aso, praticamente um live-action que mistura Jogos Mortais, Escape Room e Jogos Vorazes, lutas que visam a sobrevivência e levam os personagens ao extremo, desta vez no Japão.
Mais uma boa série fora do circuito estadunidense!
O título da série é uma brincadeira com o clássico Alice no País das Maravilhas, trazendo várias referências. Border, fronteira, faz menção à “prisão” dos personagens em Tóquio e aparentemente o objetivo é que consigam sair de lá. Arisu (Alice, em japonês, interpretado por Koushun Takami) é o personagem principal, Usagi (Tao Tsuchiya) sua amiga atleta, é “coelho”, e existe também o Chapeleiro (Nobuaki Kaneko), um bon-vivant que traz algumas explicações sobre a mente atrás dos jogos.
São destaques as cartas de baralho e seus naipes, que representam a dificuldade de cada jogo. Paus pedem cooperação e estratégia; Espadas o esforço físico; Copas os embates de relacionamentos; Ouros pede inteligência. O número é o grau de dificuldade (2 a 10) e a quantidade de dias que o jogador recebe como “vida”, ao final desta contagem ele é atingido por um laser vindo do céu (!) e morre, por isto deve participar de outros jogos para conseguir mais vidas, vamos assim dizer. Ou jogam ou morrem, fácil escolher! rs
A série vai se explicando ao longo da trama, mas parece pecar por se explicar demais, sabe? Toda hora acontecem flashbacks, parece que até direcionando o pensamento do espectador. Impossível não comparar com as inúmeras dúvidas que Round 6 justamente não responde (ou vai responder na próxima temporada).
É eletrizante, cheia de emoção e desperta muitos questionamentos filosóficos e a discussão de até onde o ser humano é capaz de ir para sobreviver. Inclusive usam a reflexão da utopia em determinado momento, top!
Alerta de spoiler a partir daqui…
Com o desenrolar dos jogos, bem pensados por sinal, temos um aparente desapego dos personagens, ao estilo Game of Thrones, contudo, entretanto, todavia… alguns poucos são mantidos e até se safam dos desafios com uma habilidade fora do comum. Talvez se mantivessem a linha do desapego seria até melhor, sabe? Apesar não tira o mérito de uma trama genial.
As arenas lembram fases de videogame, e quando abertas são iluminadas em destaque na cidade.
As descobertas dos locais e da mente do criador dos jogos trazem lampejos de mudanças de rumo à história, como por exemplo a “Praia”, em que vários sobreviventes se unem, tem a liberdade para se divertem e se preparam para os próximos desafios. Na excelente aula/explicação do Chapeleiro vemos referências a Utopia de Tomás Moro, com o desejo por um mundo ideal e a “A República”, de Platão, sobre os valores morais que deveriam guiar uma sociedade modelo.
Interessante como o convívio numa sociedade neste modelo se destrói quando se perde o elo de ligação, no caso a morte do Chapeleiro despertou a inveja, traição, guerra, mesmo em um ambiente beirando o colapso da exterminação.
Pena que o último episódio pareceu ser muito corrido para o tanto de informação. Neste fim os personagens principais superam o desafio da Praia, conquistam a última carta, o 10 de Copas, e descobrem a “Matrix”, mas que não revela muito, pois os operadores estão mortos e há uma Matrix comandando a Matrix, coisa de louco! Acho que poderiam ter gastado mais tempo após a fuga da Praia e o encontro com a sede.
A segunda temporada dá indícios que os jogadores precisarão conquistar as cartas com as figuras do Valete, Dama, Rei, Ás, e quem sabe o Coringa.
Perguntas que não se calam: é possível vencer este jogo? Os personagens estão em uma realidade paralela ou este é um mundo pós-apocalítico?
Vale a pena esperar a segunda temporada!
Alice in Borderland
Direção: Shinsuke Sato
Elenco: Kento Yamazaki, Tao Tsuchiya, Nobuaki Kaneko
Nota: 8,5/10
Link do trailer oficial: