
O fim
“O mundo era dividido em dois lados. Não é mais”. Com esta frase resumimos esta última temporada da boa série brasileira 3%. Produção nacional de muita qualidade, sem apelar para o clichê latino de sexo, crime, tráfico ou o samba. Apesar de apresentar um romance a três, um casal lésbico, e uma transexual (Adriel, interpretado por Marina Mathey), estes não estão tiram o brilho da temática central.
Antes de La Casa de Papel, esta era a série original da plataforma de streaming de língua não-inglesa mais assistida nos EUA desde o seu lançamento em 2016, e mais da metade das visualizações vinham de mercados internacionais, afirmado pela própria empresa em comunicado oficial.
Já analisamos aqui no Kapoow a 3ª temporada, que marca Michele (Bianca Comparato) como fundadora da Concha, uma nova comunidade como alternativa ao Maralto, elite paradisíaca que acolhe somente os 3% que passam em um rigoroso processo seletivo; e ao Continente, única opção para todos os 97% restantes. Diferente destas duas últimas, na Concha todos são bem-vindos e o trabalho em conjunto visa o bem comum, a utopia inicial, mas este ideal é rompido com uma calamidade, e os moradores voltam a apelar para um processo seletivo interno.
Nesta 4ª temporada vemos Marcela (Laila Garin), líder do exército da “elite” sendo presa pela Concha, mas Glória (Cynthia Senek) acaba a libertando e entrega o plano de destruir as instalações do Maralto com um pulso eletromagnético, com materiais enviados secretamente pelos dissidentes Joana (Vaneza Oliveira), Natália (Amanda Magalhães), Marco Álvares (Rafael Lozano) e Rafael (Rodolfo Valente).
Não satisfeita em ser liberta, Marcela ainda destrói as instalações rivais, gerando ainda mais ira em Michele. Enquanto isto André (Bruno Fagundes) dá um golpe no conselho do Maralto e torna-se um ditador, querendo separar ainda mais o abismo entre os seres que se acham superiores e o resto do mundo. Assim como seus antecessores, transformaram o Casal Fundador numa ideia, “porque as ideias vivem para sempre” e não são como as pessoas, cheias de falhas.
Xavier (Fernando Rubro) se infiltra no processo para sabotá-lo e junto com os dissidentes conseguem gerar o caos por um antigo submarino. Sem acesso à energia e tecnologia, os maraltenses estão fadados ao seu fim e declaram guerra final ao continente. O Velho (Celso Frateschi) é a chave para descobrir uma solução para esta tormenta: Tânia, a fundadora da Causa e filha do Casal Fundador, antes da morrer deu instruções de um misterioso objeto escondido. Trata-se de um projetor enterrado por sua mãe, assassinada pelo próprio grupo fundado por sua filha, e que prévia uma última prova entre 6 candidatos dos dois mundos. De forma justa iria provar quem é de fato a raça dominante.
6 se candidatam: Joana, Xavier, Rafael, Marcela, Verônica e André. Antes de revelar o ganhador, André sabota o resultado, mesmo assim a esperança brotou no coração de todos. As pessoas se dirigem ao prédio do processo para a primeira assembleia, em que todos teriam voz e vez: Maralto, Continente e Concha.
Destaco aqui algumas interessantes discussões da trama:
Participações especiais de Chico César e Ney Matogrosso.
A religião como ópio do povo? Tal qual a afirmação de Karl Marx, o líder religioso do Continente vende a ideia de um paraíso possível, acessado através do recrutamento. Ele ajuda a manter o ideal com a população, mas recebe informações e tecnologias dos maraltenses para convencer seus adeptos da utopia.
Bianca Comparato, que interpreta a protagonista Michele, em uma entrevista afirmou algo bem real: “Acho que deve ser difícil para o brasileiro assistir a uma série sobre uma distopia quando o país já é distópico, né? Não é uma realidade tão diferente”. E não é que é mesmo?
Parabéns a trama, início, meio e fim sem esticar demasiadamente a história. Uma série curta, objetiva e que trouxe boas avaliações às produções nacionais!
3% – 4ª Temporada