Incrível visualmente, mas com problemas. Cyberpunk vai muito além dos bugs.
Cyberpunk 2077, era um dos jogos mais esperados da geração, com muitos anos de espera desde seu anúncio e vários adiamentos, a CD Projekt Red enfim lança sua “obra prima”. Mas se a empresa responsável pelo ótimo The Witcher III, achou que poderia superá-lo, sinto dizer que não conseguiram.
Ambientado em Night City, uma cidade futurística regida por poder, violência, sexo e tecnologia. O protagonista é V, um mercenário que quer encontrar seu espaço na cidade, só que acaba com Johnny Silverhand (Keanu Reeves), um roqueiro rebelde morto há 50 anos, preso em sua cabeça. A história que nos apresenta o RPG de mundo aberto, que tem muitas qualidades e uma ideia inovadora, mas com uma execução falha.
Vamos a inovação!
Difícil pensar em um FPS de mundo aberto, ainda mais como RPG, mas aí vemos o que Cyberpunk tenta inovar. A ideia realmente é muito interessante e empolga ao seu início. Penso que a desenvolvedora pensou que ao nos apresentar a um novo universo, deveríamos parecia-lo com o nosso olhar. Não posso garantir que foi essa realmente a ideia, mas se foi, foi um ponto positivo.
O grau de imersividade e o quando disfrutamos de Night City é inegável, confesso que só tive o mesmo grau de conexão com o mundo de um jogo nas franquias, Assassin´s Creed e Read Dead Redemption. Mas neste caso ainda sim é diferente, pois você vive a cidade. O que mostra o quanto mais poderia ser incrível.
Mas mesmo com a tentativa salutar e justa de nos entregar o propósito, o game não se entende como um shotter e basta chegarmos ao primeiro momento de ação para entendermos isso.
Com um estilo GTA, ficamos a todo instante pensando como mudar a câmera, em busca do modo terceira pessoa que facilitaria muito mais a jogabilidade.
Não faltam momentos onde isso fica mais evidente, como quando conduzimos veículos ou olhamos no espelho.
Qual V quer ser?
Ao iniciar o game, você poderá criar que personagem será no decorrer da história. Podemos escolher gênero, cabelos, olhos, físico, tatuagens, implantações de tecnologias e até o tamanho das genitálias, algo inédito. Você também poderá escolher qual será o seu perfil, Nômade, Marginal ou Coorporativo, cada um levará a um modo diferente de história. Mas uma dica, pense bem neste momento, pois assim que o game começa, não poderá ser alterado e toda a trama será em torno do “V” escolhido. E essa é a “única” coisa que não poderá ser modificada durante o jogo.
Com um bom RPG, Cyberpunk tem uma gama absurda de opções de aprimoramento. É tanta coisa que chega a dar preguiça, e o pessoal que não está acostumado, pode até abandonar o game. Eu mesmo, apesar de habituado, achei exagerado e bem cansativo.
Roupas, armas, itens diversos, além dos aprimoramentos de upgrade de personagem são diversos, mas que definem qual será o seu diferencial.
Se quisermos um “V” de ação, de furtividade ou hacker, tudo dependerá do seu progresso e escolhas nas habilidades.
Os menus para os upgrades e demais funções não são dos mais fáceis, sendo assim, redobre sua paciência e atenção, nele e durante todo o jogo, pois terão milhares de itens coletáveis a cada cena.
Jogabilidade: A ação é um problema maior que os bugs
Mesmo para quem tem experiência em FPS, sofrerá nos controles de Cyberpunk. A pior coisa que CD Project Red entregou foi o sistema de tiros no game. Difícil, sem uma mira minimamente utilizável e com inimigos quase imortais (sim, eu sei que são androides e é preciso upar o personagem, mas sério, irrita!), a cada momento em que precisamos atuar com nosso arsenal é um parto. Uma dificuldade desnecessária que beira o absurdo, e me fez, por exemplo, abandonar o jogo em vários momentos.
Em muitas ocasiões, é preferível utilizar o sistema de furtividade, sendo muito mais eficaz e economizando tiros e vida.
Não sou um expert em FPS, mas se pensarmos em jogos como COD ou Far Cry, em todos conseguimos jogar e, apesar da alguma dificuldade, conseguimos controlar e nos divertir. Em Cyberpunk a ação não é divertida, é irritante. E se você é amante dos shotters, esqueça, não conseguirá dar Head Shot!
Em relação a condução dos veículos, isso já é um ponto alto. Assim como GTA, podemos abordar e roubar qualquer veículo (Mas fique atento que também é necessário upar o personagem para pegar alguns deles), momento que transforma o game no modo terceira pessoa (se quiser, é claro, mas duvido que consiga pilotar com a câmera de dentro do carro) que talvez fosse a melhor escolha.
Gráficos
Sem dúvida a melhor coisa de Cyberpunk. O visual de Night City é incrível, com detalhes absurdos, a cada objeto e principalmente NPCs, nos surpreendemos com o nível de dedicação para que a cidade estivesse o mais real possível e que o jogador garanta sua imersão.
É possível entrar em qualquer loja ou demais ambientes e os personagens e locais tem o mesmo nível de qualidade gráfica que os principais da trama.
O mapa possui sistema de viagem rápida, mas assim como em The Witcher, não vai querer utilizar, apenas para admirar o visual da cidade e aproveitar cada momento. Mesmo quando pegamos carona com algum outro personagem, é muito bacana poder dedicar o tempo ao mundo criado.
A única coisa que senti falta foi um pouco mais de “vida acontecendo” aos NPCs na cidade. Ao contrário do que vemos em Assassin´s Creed, por exemplo, onde mesmo sem interferir, vemos animais brigando ou atacando outros habitantes, em Cyberpunk são quase sempre estáticos e apenas estão nos locais ou caminhando. Mas nada muito grave.
Personagens
Como dito anteriormente, você contra “V” (Vincent ou Valerie, dependendo do gênero) é aparentemente carismático, mas infelizmente não poder vê-lo durante a experiência perde muito do brilho (é possível ter a visão durante as cenas em veículos ou em espelhos, mas não muda muito a experiência). Os demais personagens que compõe a trama são igualmente interessantes e todos muito bem retratados visualmente, criando uma fisionomia única e marcante a cada um deles. Mas ninguém supera Johnny Silverhand.
O personagem de Keanu Reeves roupa cena a cada vez que aparece, e claramente muito bem dirigido. Com os mesmos trejeitos e carisma do ator, a ideia de inseri-lo no game não poderia ser mais acertada, sendo de longe uma das melhores coisas em Cyberpunk e responsável por aumentar ainda mais o hype do game.
Neurodança e Medicânicos
Não poderia deixar de falar sobre esses dois tópicos, ambos importantes para trama.
A Neurodança e uma forma virtual de investigação criminal, onde acessamos o chip da vítima e tentamos identificar na cena do crime, sua localização e responsável. A ideia é muito boa, mas a execução é chata e monótona, fazendo você bufar de tédio a cada vez que o nome é pronunciado durante a trama.
Já os Medicânicos são muito importantes para as operações que darão implantes de melhorias em seu corpo, necessárias para o andamento da história.
Easter Eggs a todo instante!
Como disse acima, Cyberpunk exige uma atenção redobrada pelo excesso de itens a serem coletados, porém com isso nos deparamos com os diversos easter eggs espalhados por Night City.
Hideo Kojima, O Iluminado, Death Stranding, Blade Runner, a roupa de Deadpool, The Witcher e até uma referência a Demolition Man, de Sylvester Stallone, (alguém aí lembra das 3 conchas?) são apenas algumas identificadas até aqui. Certeza que muitas mais aparecerão em breve, o que é muito legal para abrilhantar a experiência e ainda um truque para aumentar ainda mais a atenção do jogador.
Que dublagem é essa?
Acho muito legal quando as empresas que se preocupam com o público diverso e dublam seus games para que possamos vivenciar totalmente a trama e tudo que nos oferece. Mas infelizmente aqui era melhor ter deixado o som original. A dublagem em português do Brasil beira o constrangedor.
Cheio de gírias, sendo muitas delas locais, rotulando personagens como de estados brasileiros diferentes. No caso de “V”, Johnny e a maioria dos habitantes de Night City, claramente são cariocas e outros com os “Nômades” são tratados como “caipiras”, péssimo! Outra questão são os palavrões em demasia e muitas vezes desnecessários. Talvez por ter escolhido o perfil Marginal, mas nem sempre se xinga por qualquer motivo. Uma pena!
- Obs: Não jogo Cyberpunk com seus filhos menores de idade ou compre para crianças, o game é adultos pelo seu conteúdo!
Agora sim, os Bugs!
Como um jogo tão esperado, foi um golpe para todos nós a quantidade de bugs reveladas e a complicada situação com a PSN. É inegável que Cyberpunk 2077 tem sim muitos problemas com bugs e situações que, deveriam ter feito a CD Project Red ter adiado ainda mais o seu lançamento e que de forma alguma teria a repercussão tão negativa que temos agora. A impressão é que sequer verificaram seu produto antes do lançamento. O que é um erro gravíssimo.
Em relação a minha experiência, como joguei no PC, não sofri tanto. Árvores aparecendo do nada, demora na renderização dos NPCs e cenários, alguns poucos objetos voando, e falas onde o personagem não mexe a boca, foram alguns que consegui verificar, mas nada que atrapalhou a jogatina. Uma pena que isso é muito por um vício de olhar que acabamos obtendo por conta do acontecido em outras plataformas.
Conclusão
Cyberpunk 2077 trouxe um hype nas alturas, muito devido a demora em seu lançamento e promessa de algo super inovador, além da presença de Keanu Reeves. Porém a entrega não é exatamente o que esperávamos.
O game é sim surpreendente na entrega de um FPS de mundo aberto e RPG, mas não se entendeu como tal. O exagero de itens e upgrade de personagens cansa e desanima, além de um modo de tiro e dublagens constrangedoras, sem contar os já conhecidos problemas de bugs.
Com um cenário e gráficos visualmente incríveis, o jogo oferece uma imersão sem igual, passando por cima dos sérios problemas e entregando em Johnny Silverhand um personagem dos mais carismáticos.
Na realidade temos um game que tem sim problemas, mas entrega experiências que vale a pena vivenciar!
Cyberpunk 2077
Data de Lançamento: 12/2020
Nota: 7/10
Desenvolvedor: CD Projekt RED
Plataformas: PlayStation 4, Xbox One, PlayStation 5, Xbox Series X, Microsoft Windows, Google Stadia