
O monopólio estadunidense parece mesmo ter sido quebrado, aleluia! Ao menos nas séries de streamings, um passo de cada vez. Depois de Black Mirror (inglesa), 3% (brasileira), La Casa de Papel e El Ministério del Tiempo (espanholas), além da recente Hernán (México-Espanhola), o Kapoow traz agora a análise e recomendação de mais uma top: DARK.
Sem pagar de pseudo intelectual da modinha gerada na pandemia com o tom apocalíptico que a trama revelou com a data de 27/06/2020, Dark vai além. O nome simples já revela a sua essência desafiadora, complexa, densa, a cara da tradição alemã. Peço desculpas pelo julgamento cheio de pré-conceitos, mas muita gente quis pagar de entendido, mas não havia entendido ou sequer visto a série antes do boom da última temporada e a “coincidência” com o fim dos tempos. Vários memes surgiram brincando que para entender deveríamos assistir com um caderno, caneta, calculadora e outros montes de ferramentas para superar a complexidade de Sombrio. Assisto filosofando desde 2017, e, de fato, é difícil entender sozinho as duas primeiras temporadas e eu mesmo confesso que apelei para sites que explicavam a trama. Como o Kapoow cita as fontes (modo irônico ligado), indicamos o site Observatório do Cinema e o canal @Vivieuvi do YouTube, este último é indicação da inteligentíssima Mirella Cavalcante, ex-aluna do Marista Glória.
A trama é tão densa, que até o cenário diz muito à história nas entrelinhas ou ocupando toda a linha. Não havia reparado até assistir o vídeo, mas as pinturas complementam mesmo a alegoria da história, pois na segunda temporada Adam aparece sempre perto do quadro “A Queda dos Condenados”, ou a queda dos anjos rebeldes, de Peter Paul Rubens (1577-1640), autor conhecido por suas obras contra reformistas. Já nesta última temporada o foco central é Adão e Eva, de Lucas Cranach, o velho (1472-1553), pintura do tempo da Reforma de Martinho Lutero, seu mestre religioso e amigo. Isto explica muito do tom religioso da trama e as aparições dos personagens trajando o clergyman (colarinho clerical) usado também pelos pastores luteranos.
Esta é uma criação das mentes brilhantes de Baran bo Odar e Jantje Friese (de Who Am I: Kein System ist sicher [Os Invasores] – tradução tupiniquim tosca, para variar) e distribuída pela Netflix, gravada em alemão e gira em torno da fictícia cidade de Winden, que vira às avessas com o desaparecimento de uma criança, revelando coincidências, segredos e conexões de Filosofia, Física e Metafísica com um ciclo de 33 anos.
3 temporadas curtas (de 8 a 10 episódios), densas, complexas, mas que se fecham perfeitamente. Top. Quatro famílias são o centro de uma teia mística que abrange uma usina nuclear, uma caverna e um estranho que chega na cidade justamente no período do desaparecimento da criança. Aos poucos descobrem uma sombria conspiração de viagem no tempo que existe a décadas e determina reflexões profundas de existencialismo sobre o tempo e seus efeitos sobre a natureza humana.
Destaco alguns dos pensadores trabalhados na trama: Platão; Albert Einstein; Isaac Newton; Schopenhauer; Friedrich Nietzsche; Stephen Hawking e o físico Nathan Rosen. Navegando por estas teorias, a irmandade secreta Sic Mundus entra em choque com dogmas religiosos e científicos como o livre arbítrio, e a triquetra das culturas pagãs e cristãs. Ouso dizer que é a melhor filmografia sobre viagem no tempo, e pela explicação física e atômica até parece mesmo possível o homem chegar a montar uma máquina!
Aos fãs dos quadrinhos, das séries e dos filmes, fica aqui uma boa explicação para o possível Flashpoint e os universos paralelos que serão apresentado no novo Batman!!!
“A diferença entre passado, presente e futuro é somente uma persistente ilusão”, Albert Einstein.
DARK
ANO:2020 / PAÍS:Alemanha
DIREÇÃO: Baran bo Odar
ELENCO: Louis Hofmann, Oliver Masucci, Jördis Triebel, Maja Schöne, Sebastian Rudolph, Anatole Taubman, Mark Waschke, Karoline Eichhorn, Stephan Kampwirth, Anne Ratte-Polle
Nota: 10/10