
Embarque em duas jornadas encantadoras pelo mundo dos sonhos
Jogo analisado no Nintendo Switch. Código fornecido pela distribuidora.
Se, ano passado por exemplo, você me falasse que teríamos os dois jogos de console de mesa do Klonoa remasterizados para a nova geração e com algumas qualidades de vida que melhoram consideravelmente a experiência de jogar esses clássicos obscuros, eu provavelmente iria ter desacreditado por força.
Não por falta de vontade de revisitar e conhecer a sequência de um dos jogos que marcou minha infância, mas por achar que a empresa não estaria interessada em reviver uma franquia que já está em sua terceira chance.
Mas, vamos por partes.
Klonoa Phantasy Reverie Series foi lançado na semana passada, dia 08/07/2022, após seu anúncio ter pego muitos fãs de surpresa em um Nintendo Direct. Confirmado para as famílias de sistema Playstation, Xbox, o Nintendo Switch e Computadores via Steam, Klonoa retorna mais uma vez para tentar emplacar sua franquia, dessa vez em um cenário mais favorável à ideia de remakes, remasters e relançamentos de jogos clássicos. Nessa análise, vamos falar um pouco sobre os jogos clássicos, sobre cada um dos remasters e sobre o pacote como um todo. Então vamos nessa, e como diria o titular gato/coelho/texugo WAHOO!
O Passado
Lançado em 1996 para o Playstation 1, Klonoa – Door to Phantomile foi desenvolvido pela Namco em uma tentativa de capitalizar no gênero de plataformas que estava muito em alta na época, além de que o mascote do console da Sony ainda estava em aberto, então nada melhor do que uma criaturinha felpuda para tentar conquistar essa posição no pódio.
Adiantando um pouco a história, Klonoa não chegou a ter essa posição com o público, tampouco com a marca Playstation, mas o que ele conseguiu foi conquistar o coração de milhares de fãs com sua gameplay envolvente, história simples, mas efetiva e cativante, e uma estética única e memorável, utilizando de uma tecnologia 2.5D para dar vida ao mundo onírico de Phantomile e claro, uma trilha sonora belíssima que consegue transmitir os sentimentos de todos os locais visitados e situações vividas pelos personagens.
O sucesso foi o suficiente para dar o pontapé inicial que o jogo precisava para se tornar uma franquia e logo já estavam saindo os side-scrollers de GameBoy e os spin-offs que nunca deixaram o Japão.
Isto foi até o ano de 2001, quando a sequência direta do jogo finalmente foi lançada.
Klonoa 2: Lunatea’s Veil recebeu aclamação crítica essencialmente universal, mas infelizmente não teve o mesmo sucesso com o público, apesar de suas melhorias e inovações na jogabilidade, o que levou a desenvolvedora a engavetar planos futuros para a série.
A história volta a sorrir para nosso herói em 2008, com um remake de Door to Phantomile lançado exclusivamente para o Nintendo Wii. Porém, novamente essa boa maré acaba ficando para trás, pois o jogo não atingiu as expectativas da Namco em revitalizar a franquia, o que acabou fazendo com que ela novamente fosse engavetada, até os dias de hoje.
Vamos agora falar dos jogos individuais dentro deste pacote.
KLONOA: DOOR TO PHANTOMILE
História e Premissa
O jogo se passa no reino de Phantomile, um mundo de sonhos em que seus habitantes vivem em constante harmonia.
Neste mundo onírico, conhecemos Klonoa, um animal não específico e antropomorfizado, e seu melhor amigo Huepow, um espírito do vento que habita o anel mágico de Klonoa.
Os dois passam seus dias brincando e curtindo a vida pacata, até que nosso herói titular tem um sonho em que um objeto desconhecido atinge a montanha perto de sua casa.
O sonho de Klonoa acaba se tornando uma profecia quando um objeto realmente choca com a montanha, levando adiante a cadeia de eventos que os mocinhos devem fazer parte para salvar Phantomile de Ghadios, um mago das trevas que planeja transformar a terra de sonhos em um eterno pesadelo – e francamente, é uma criatura que não estaria fora de lugar em um jogo de terror.

Nesta jornada, você deve percorrer o mundo de Phantomile, conhecer novos amigos, auxiliar os habitantes dos diversos reinos e livrar as pobres criaturas das garras de Ghadios.
Apesar da história em sua essência ser simples e aparentar ter uma leveza nata por conta desta premissa que contei, não se iluda! Pois o jogo sabe bem como elevar momentos dramáticos e tem um final digno de plot twist Shyamalanesco.
No geral, é uma história que sabe exatamente o que quer contar, como contar, e onde chegar lá sem nenhuma enrolação desnecessária ou grandes momentos expositivos.
Visual
Logo de início, vale fazer o apontamento de que essa remasterização é baseada nos visuais do remake de Nintendo Wii, citado anteriormente. Mas isso não é tudo, pois diversos elementos dessa identidade visual foram substituídos por seus equivalentes originais do Playstation.
O resultado é um mundo extremamente agradável, colorido e convidativo, com lindos horizontes e modelos de personagens bonitinhos, que contribuem muito para o clima onírico e encantador que o jogo propõe.
Este mundo é visto por uma perspectiva 2.5D, que significa que Klonoa pode movimentar-se para os lados e interagir com objetos que estejam em planos na sua frente, ou de trás dele.
Aproveito para mencionar aqui também, que encontrei pouquíssimos bugs gráficos, que foram apenas algumas instâncias de pop-in de textura.
Trilha Sonora e Sons
Não vou medir palavras, a trilha de Door to Phantomile é simplesmente encantadora. Consegue capturar perfeitamente um mundo dos sonhos e todas as sensibilidades que veem dessa ideia, com um ar de misticismo e descobrimento constante, temas de personagens que grudam como chiclete e uma das músicas de mapa mais belas que encontramos na 5ª geração de consoles pode oferecer.
Os efeitos sonoros não deixam a desejar, cumprem perfeitamente bem o seu papel e são convincentes dentro da proposta.
Os personagens não têm voz dublada, então prepare-se para ouvir grunhidos à la Banjo-Kazooie, mas claro, com os mesmos charmes do restante da estética.
Jogabilidade
Além dos botões de movimento, Klonoa pode apenas pular e atirar Huepow na forma de uma bala de vento, que é utilizada para atacar os inimigos e interagir com o cenário.
Estas são as únicas manobras que nosso herói consegue realizar, e apesar de parecer algo extremamente simplista, o design dos níveis tira total proveito dessas mecânicas.
Ao atacar um inimigo, Klonoa na verdade o infla como um balão, e pode arremessá-lo em outros inimigos, peças do cenário ou jogá-los para baixo, ganhando assim um pulo duplo.
O jogo faz um ótimo trabalho em ensinar esses controles de forma natural, sem a necessidade de tutoriais para pausar a experiência para explicar as minúcias de seus sistemas.
Aliás, uma recomendação que faço para quem quiser se aventurar nesses jogos é desligar os tutoriais imediatamente.
A experiência de descobrir como os movimentos interagem uns com os outros é muito gratificante para ser trocada por caixinhas de texto.Já que os níveis são pensados com essa movimentação enxuta, o que acaba acontecendo é que cada mundo e fase apresentam suas próprias particularidades mecânicas, então o jogo não se torna monótono nem cansativo de ser jogado. Cada fase tem 150 pedrinhas preciosas para serem coletadas e 6 Phantomilians para serem resgatados. Ao coletar todos os Phantomilians, um nível secreto é desbloqueado e este funciona como uma prova de fogo para ver se o jogador conseguiu dominar todas mecânicas apresentadas.
Para dar variedade na progressão, ocasionalmente o jogador encontrará os chefes, que são relativamente simples e não apresentam nenhum desafio muito complexo, apenas testando as habilidades adquiridas até o ponto em que você os encontra.
A campanha do jogo é bem curta, levando apenas 4 horas para ver os créditos rolando, mas pelo menos é uma experiência na medida certa, sabe em que medida ir introduzindo elementos novos, desafios mais elaborados para jogadores experientes e tem uma ciência muito precisa do momento em que tem que acabar, não ficando um momento a mais ou a menos além do que é necessário.
Conclusão
Uma experiência agradável, encantadora e com um desafio na medida certa, Door to Phantomile sabe exatamente o que precisa ser e mostra ao mundo que não conseguiu por acaso o status de clássico cult entre entusiastas do primeiro Playstation.
KLONOA 2: LUNATEA’S VEIL
História e Premissa
Klonoa é convocado para uma nova aventura, dessa vez mergulha de cabeça no universo de Lunatea e deve salvá-lo de uma profecia que busca trazer à tona um reino secreto que pode desequilibrar o balanço do mundo.
Junto com os nativos de Lunatea, Lolo e Popka, Klonoa deve tocar os sinos que representam os elementos de cada um dos reinos para impedir a catástrofe iminente. Com novos desafios, amigos e inimigos, venha conhecer um mundo novo com nosso querido gato/coelho/texugo antropomorfizado.
A jornada de Klonoa em Lunatea é, novamente, extremamente divertida e engajante, maneirando um pouco no drama emocional de seu antecessor e focando em temas como destino, sentimentos e o papel de indivíduos na ordem natural de seus mundos.
É uma história precisa, pontual e que sabe a medida certa entre drama, humor e um pouquinho do bom e velho existencialismo que permeia essa adorável franquia.
Visual
Tratando-se de um jogo estilizado do Playstation 2, Klonoa 2 já estava em uma grande vantagem antes deste remaster, bastava dar um aumento na resolução das texturas e efeitos e o jogo manteria o mesmo charme que apresentou ao mundo em 2001.
E foi exatamente o que foi feito! (Em partes!)
O visual continua incrível, e dessa vez conta com biomas e mundos mais variados que seu antecessor, apesar de ainda não fugir muito das convenções de plataformas que já esperamos.
Um mundo que me cativou muito em especial foi uma casa das ilusões que lembram muito uma pintura de MC Escher, com jogos de perspectiva e espelho que são extremamente divertidos de se explorar e de se perder em.
Trilha Sonora e Sons
Novamente, vamos direto ao ponto, a trilha sonora deste jogo é fantástica.
Alguns temas são reaproveitados do jogo anterior, mas as novidades introduzidas não deixam a desejar e conseguem capturar perfeitamente a identidade de Lunatea e de seus reinos encantados.
O onirismo transborda pelos auto-falantes do console e da televisão, tanto pela trilha quanto pelos efeitos, que conseguem acompanhar a trilha de maneira magistral.
Novamente, os grunhidos substituem a voz dos personagens mas dessa vez de um modo bem exagerado, que chega até a distrair de alguns momentos da história.
Algo como o primeiro jogo, ou uma dublagem integral das cenas com certeza mitigaria esse ponto.
Jogabilidade
Tudo mencionado a respeito do jogo anterior se mantem aqui. Tanto a movimentação enxuta, quanto o estilo 2.5D na maior parte do jogo e o design dos níveis pensando em acomodar dita movimentação retornam e em grande estilo, até mesmo superando aspectos do antecessor.
Mas claro que o jogo conta com suas próprias novidades. Em algumas fases, Klonoa pode utilizar de um snowboard para se movimentar em um espaço 3D, diversificando assim as fases do jogo.
Foram adicionados também novos tipos de inimigos para se interagir e alguns deles trazem mecânicas próprias, como os cristaizinhos que devem absorver outros inimigos para permitir a passagem de nosso herói.
Novamente, deixo aqui minha recomendação de desligar os tutoriais assim que o jogo começar, para ter a experiência de descobrir essas novas interações.
As 150 pedrinhas colecionáveis voltam em cada nível, juntamente com os habitantes de Lunatea que devem ser resgatados para desbloquear um nível extra, que também é satisfatório e testa a maestria das mecânicas por parte do jogador.
Dessa vez, a curva de dificuldade consegue ser ainda mais pontual e agradável do que seu antecessor, sendo perfeitamente natural e avançando na medida certa, sem momentos frustrantes ou chefes impossíveis.
Inclusive, achei os chefes de Lunatea bem mais tranquilos dos que os de Phantomile, que já eram bem sossegados de se enfrentar.
A campanha é um pouco mais longa também, dessa vez ostentando cerca de 5 horas de conteúdo, incluindo extras e os níveis adicionais.
Conclusão
Lunatea’s Veil é uma continuação que consegue superar seu antecessor em diversos pontos, ao mesmo tempo em que é superada em outros.
O jogo conta com uma campanha perfeitamente ritmada, com uma curva de dificuldade extremamente agradável e satsfatória de se conquistar.
Não é nenhuma missão impossível terminar esses jogos, mas é extremamente divertido e recompensador.
Phantasy Reverie Series
Essa coletânea tem dois jogos bons por um preço justo, caso as poucas horas de conteúdo bruto não sejam um detrimento.
No fim das contas, os jogos têm campanhas extremamente re-jogáveis, um incentivo a coletar todos os itens colecionáveis e ambos os jogos tem os mesmos modos extras, uma dificuldade nova, o hard mode e um modo de time attack para enfrentar os chefes novamente, de modo rápido.
Infelizmente, pelo menos na versão de Switch, ambos os jogos apresentaram queda na taxa de quadros, tanto no modo portátil quanto no dock conectados à televisão. Até o momento não foi lançada nenhuma atualização para corrigir esses erros, mas é importante dizer que em nenhum momento eles atrapalham a experiência do jogo, apenas distraem e são impossíveis de não notar.
Conclusão
Seja você um fã de velha guarda buscando recapturar experiências nostálgicas ou apenas uma pessoa com interesse na franquia Klonoa, Phantasy Reverie Series entrega tudo aquilo que promete com muito charme, diversão e satisfação em um pacote com excelentes jogos.
Agora resta ficar na torcida para um possível Klonoa 3, afinal, sonhar é de graça.
Desenvolvedor: Monkey Craft
Distribuidor: Bandai Namco
Plataformas: Microsoft Windows, Playstation 5, Playstation 4, Xbox Series X/S, Xbox One, Switch
Gênero: Plataforma
Notas:
Door to Phantomile: 8.5
Lunatea’s Veil: 9
Phantasy Reverie Series: 9