
Um fan service que não é bom, mas poderia ser muito pior.
A tempos falamos aqui no Kapoow sobre filmes baseados em games. Infelizmente as experiências não tem sido lá muito animadoras. Desde o pior desastre que foi Mario Bros, passando pelo bom Assassin´s Creed e fechando no desesperador e recente Mortal Kombat, é difícil emplacarmos algo realmente que traga fidelidade e qualidade. Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City tampouco mudou o cenário, mas, em vista que vimos nos filmes pavorosos da Milla Jovovich, e a série que vem por aí na Netflix, saímos no lucro.
O longa-metragem escrito e dirigido por Johannes Roberts optou por unir as tramas dos dois primeiros jogos da franquia criada pela Capcom, Resident Evil (1996) e Resident Evil 2 (1998). O filme inclusive se passa em 1998, quando a Umbrella Coorp, famosa empresa farmacêutica, abandona por algum motivo Raccon City, deixando a cidade quase que vazia, pois praticamente a totalidade dos moradores trabalhavam na indústria. Com situações inusitadas acontecendo na cidade e grupos desaparecidos, os policiais locais vão ao resgate, enquanto Claire Redfield volta a sua cidade natal, para encontrar seu irmão e tentar resolver seus traumas do passado.
Justamente por unir os 2 primeiros e primorosos games em um único filme, o diretor perde a mão. Sem saber para onde correr, tem que criar novas situações que fogem ao cânone, transformando o longa em um Frankenstein sem rumo. Talvez um pé no freio, trazendo a princípio apenas o primeiro game como roteiro, daria muito mais certo.
Tudo é corrido e meio sem explicação, principalmente para quem nunca viu Resident Evil. Para quem é fã da série, como eu, consegue ligar os pontos, mesmo não sendo bem executados.
O elenco até que é bom e dão um peso maior ao filme, mas também mal colocados em cena devido a confusão entre os 2 jogos. Destaques positivos para Chris e Claire Redfield (Robbie Amell e Kaya Scodelario) que além de muito parecidos a suas versões nos games, conseguem entregar uma boa atuação. Albert Wesker (Tom Hopper), que teve sua história modificada em relação ao primeiro game, e Jill Valentine (Hannah John- Kamen) não se saem mal, mas tem pouquíssimo peso e tempo em tela dada a importância de seus personagens. Neal McDonough está tão “bem” quanto no Arrowverse, ou seja, a passeio, com seu Willian Birkin. Mas o que realmente destoa é Leon (Ava Jogia), que decepção!
Para quem não tem afinidade com a franquia, Leon S. Kennedy é um dos principais personagens, protagonizando os capítulos 2, 4 e 6 da saga, sempre trazendo uma importância e presença de tela, não apenas nos jogos, mas também nas recentes animações. Em Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City, Leon é tratado com um completo idiota e alívio cômico (que nem isso consegue fazer), além de completamente descaracterizado no visual e comportamental. É, de longe, a pior coisa do filme.
Os efeitos visuais deixam a desejar, principalmente dos cães zumbis e monstros maiores, como os Lickers, ficando claro que o investimento teve seu orçamento limitado, caracterizando o longa como um filme B de luxo.
Mais nem tudo é ruim, para quem é fã e conhecedor da franquia, vai esboçar aquele sorriso a cada cena extraída dos consoles, e são muitas. A Mansão Spencer, a presença de Lisa Trevor, a delegacia de Raccon City, o caminhão desgovernado, a cena clássica do zumbi na mansão, as roupas de todos os personagens, tudo é um incrível fan service.
A evolução dos zumbis é interessante, a história de origem dos irmãos Redfield e o clima de terror causado em alguns momentos também são positivos. Por esse motivo, mesmo com os problemas citados, o longa diverte, te faz relembrar e sorrir pelo que já vivenciou nos consoles no passado e atualmente nos remakes. Ao sofrer tanto depois de assistir Mortal Kombat, achei que seria muito pior do que o apresentado, mas concordo que não deveria ser aceitável.
Resident Evil é uma das franquias mais famosas no mundo dos games, uma pérola criada pela Capcom, que reúne uma forte história e personagens de peso e carismáticos, basta ver o que tivemos no recente Resident Evil Village. Infelizmente fica cada vez mais difícil acreditar que teremos um exemplar disso nas telonas após o tratamento dado a esta nova versão. Apesar de um grande fan service, o roteiro sofre na execução e planejamento, assim como algumas atuações, ficando claro que filme foi tratado como B, para uma série que tem potencial e merecia ser A.
Ah… o filme tem uma cena pós-crédito que amplia ainda mais a nostalgia e traz um novo personagem para o futuro, ainda incerto!
RESIDENT EVIL BEM VINDO A RACOON CITY
Direção:Johannes Roberts
Elenco: Robbie Amell, Kaya Scodelario, Hannah John- Kamen, Tom Hopper, Ava Jogia e Neal McDonough
Nota: 6.5/10