
No dia 19 de Maio, Life Is Strange recebeu o seu terceiro (e surpreendente, tanto quanto os anteriores) episódio. Quando me deparei com o fato de que o Kapoow ainda não tinha um artigo sobre este jogo, fiquei um tanto quanto desapontada, mas ao mesmo tempo feliz pela oportunidade de falar sobre uma trama que eu venho acompanhando desde o início e que me encanta e me atrai a cada reviravolta.
Se você não é familiar com Life Is Strange ou sequer ouviu falar deste belíssimo “trabalho em progresso” da Square-Enix, trata-se de um game em formato episódico, com seu capítulo de estreia lançado no final de Janeiro deste ano. A protagonista Maxine “Max” Caulfield é um fator incomum em meio a uma tradicional escola de elite na pequena cidade de Arcadia Bay, e a sua excentricidade ganha um novo grau inusitado quando ela descobre que possui o dom de manipular o tempo, revertendo-o para refazer ações. A dinâmica do jogo é a de analisar objetos e falar com pessoas, o que lhe dará pistas a respeito dos mistérios a serem solucionados na trama.

Gameplay completo do episódio 3, “Chaos Theory”:
O objetivo principal deste texto é te situar em sua trama tão bem elaborada e tão envolvente. E não, eu não estou ganhando um único centavo para falar bem dele, apenas acho que você deveria dar uma chance, baixar a versão demo e confirmar o que estou dizendo aqui e, portanto, o que quero com este texto é te inserir no universo de Max e dos demais personagens, assim como eu fui inserida e não consigo mais sair.
A vida é estranha. De fato. Alguém ainda não tinha notado isto? E acima disto, ela é feita de escolhas. Eu escolhi jogar a demo de Life Is Strange e no mesmo segundo decidi que precisava comprar a Temporada Completa. E agora estou escolhendo passar aos leitores do Kapoow o que eu já vivenciei com o game. O denominador em comum do enredo é justamente o “saber escolher”. Mas o que é saber escolher? Alguém tem como saber o que é melhor a médio ou longo prazo? É com isto que é preciso aprender a lidar neste jogo. Cada decisão tomada terá uma consequência diferente, e não há como prever se ela será positiva ou negativa, e muitas vezes podem ter resultados totalmente inesperados.

E pensar que tudo começou com uma ida de Max (porque ela não gosta que a chamem de Maxine) ao banheiro, depois de um sonho incrivelmente real durante um cochilo na sala de aula… Ela só precisava de ar fresco, de uma água gelada no rosto. Sua única preocupação, até então, era um concurso para a aula de fotografia. Max adora fotografar, registrar o momento, um momento que, para ela, até então, não voltava mais. Foi naquela ida ao banheiro, naqueles minutos cotidianos, que tudo mudou e de repente este conceito passou a não existir mais. Uma garota prestes a levar um tiro e Max foi a sua heroína anônima, pelo menos a princípio, porque pouco depois o jogo nos ensina que nada é puro acaso, e então descobrimos que a garota salva do tiro era a melhor amiga de infância de Max, de quem ela acabou se afastando ao se mudar há alguns anos.
Em Life Is Strange lidamos com todos os estereótipos de pessoas. Passam por Max os esportistas narcisistas, as patricinhas populares, a garota tímida que sofre bullying da turma, o nerd melhor amigo, a menina bonita que todo mundo acha que não tem nada que preste na cabeça… Por favor, note que eu usei o termo “estereótipo” lá em cima, porque se tratam da primeira impressão, aquela que fica. É claro que, conforme vamos conhecendo as pessoas, vamos passando a sacá-las um pouco melhor. Sim, só um pouco, porque a essência de cada um pode ficar oculta por toda a sua existência. Há as pessoas mais fechadas, as mais abertas ao mundo, as que se arriscam mais e as que ponderam.

O jogo traz um pouco de tudo isto em cada um dos personagens, numa verdadeira mistura de aspectos e atributos que por vezes podem ser que só fiquem claros no desfecho derradeiro do último episódio. Rachel Amber é o perfeito exemplo disto: a garota está desaparecida e encontramos pôsteres dela espalhados por todo o campus. Todos a conhecem, ou pensam conhecê-la. Cada um tem uma história diferente para contar de quem era a Rachel. Mas será que ela é (ou era) mesmo a pessoa que todos viam? Será que vamos chegar a conhecer a “verdadeira” Rachel? Quem conhecia a verdadeira Rachel, afinal?
E quem conhece a verdadeira Chloe, a melhor amiga de Max? Talvez nem a própria Max saiba o que se passa de verdade em seu âmago, apesar de irmos descobrindo conforme a história progride. Depois da morte de seu pai, da mudança de Max para longe e do novo casamento de sua mãe, a vida de Chloe deu um giro de 180 graus, e ela precisou encontrar novos portos seguros, já que os seus pilares anteriores haviam sido destruídos. A nova máscara de Chloe é a de uma garota rebelde, mas que, na essência, é a mesma de sempre, apesar das mágoas e dos traumas. Ela se envolve com pessoas erradas, como o traficante Fran, e se coloca em situações prejudiciais e que acabam chegando justamente em Max, que acaba sendo puxada para dentro delas como se estivesse destinada a isto, como se tudo estivesse ligado por uma rede invisível, como se fossem objetos girando em pontas extremas de um tornado, e acabam colidindo em algum momento.

Porque, no fim das contas, sem querer ser literal (sem querer dar spoilers), no fundo, é o que Life Is Strange é: um turbilhão. Cada escolha que você faz vai te levar em uma direção, mas, no final, sabemos que todas elas vão levar a um mesmo ponto, por causa de algo chamado “equilíbrio”. O desfecho do terceiro episódio deixa bem claro isto: por mais que você escolha bem lá atrás, lá na frente talvez repense e se arrependa das ações que tomou. Além disto, há coisas que nem o poder de manipular o tempo pode mudar, como o fato de que você vai conhecer todos os tipos de pessoas na sua vida, e que a dor e o sofrimento fazem parte da existência de cada um.
Meu ponto com este texto não era o de falar de Life Is Strange em seu aspecto técnico, porque ele é bem instintivo e você pega o “jeito dele” no minuto em que toca no controle para realizar a primeira ação, sem falar nos tão famosos tutoriais em tela dos jogos de hoje em dia. Os gráficos são bonitos, mas sem a pretensão de serem altamente realistas e de última geração. Isto é notável especialmente nos detalhes do cenário, como quadros e fotos, onde as pessoas são representadas até mesmo sem rosto, como nos detalhezinhos de fundo das páginas de histórias em quadrinhos.

Acredito que, em termos técnicos, um dos grandes primores do game seja a trilha sonora… Cada uma das músicas escolhidas é mais envolvente que a outra, e não só preenchem o vazio de pensamentos de Max em alguns momentos, ou seja, a música, tanto a letra quanto a sonoridade, diz tudo o que precisamos saber, como te dizem um pouco mais sobre a personalidade das personagens, e você acaba percebendo que se parece mais com elas do que poderia imaginar.
Se depois de tudo isto você não sentiu vontade de ao menos dar uma chance para a demo de Life Is Strange, não sei mais como posso te convencer. Porém, se você ficou curioso, o jogo está disponível para PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One e PC, somente em formato digital. Infelizmente, o jogo não recebeu localização para o nosso idioma, portanto, um nível intermediário de inglês é necessário para compreender a história e poder realizar as ações do jogo.