

Já se foram quase quatro anos desde que a Quantic Dream lançou Heavy Rain, aquele jogo de PS3 com belos gráficos e uma trama focada em investigação policial. Agora, a produtora do diretor David Cage aposta suas fichas em “Beyond: Two Souls”, outro título com foco na narrativa e mecânica mais voltadas para decisões tomadas ao longo da jogatina.
Diferente de seu irmão mais velho, o novo game da Quantic Dream se posiciona entre uma linha tênue de jogo e filme. Diversas vezes durante a partida o jogador mais assiste do que interage.
Quem está acostumado com os clássicos FPS, luta, hack’n slash, futebol ou corrida,
vai acabar decepcionado com Beyond. Não que o game seja uma porcaria, muito pelo
contrário. Se formos avaliar apenas gráficos e som, o título mereceria uma nota alta.
Porém, só dois quesitos com nota máxima não fazem um grande game e a produção acaba pecando em alguns deslizes que veremos a seguir.
Elenco conhecido
A escolha de atores conhecidos para os papéis principais deixou os fãs da Quantic
Dream na expectativa por um jogo de alta qualidade. E sim, as atuações de Williem
Dafoe (o mais canastrão dos Duendes Verdes) e Ellen Page (a eterna Juno) são excepcionais.

O trabalho de captura de movimentos, expressões faciais, entre outros aspectos técnicos,
mostra que os últimos suspiros do PlayStation 3 ainda serão ouvidos por algum tempo.
Mesmo a semelhança de Ellie, personagem do primoroso “The Last of Us”, com Jodie
Holmes, não é empecilho para se impressionar com “Beyond”. Aliás, ouso dizer que este é um dos papéis que Ellen Page mais se destacou em sua carreira.
Boi da Cara Preta
A trama de “Beyond” conta a história de uma garota que desde criança tem um encosto. Simples assim. E a entidade tem até nome, Aiden. Agora me diga uma coisa. Que criança ia ficar tranquila com a presença de um fantasma que te mostra o outro lado da vida e ainda por cima dá nome ao safado? Se fosse comigo eu já teria me borrado de medo por três gerações. Sai pra lá, Diabo!!!
Mas como Jodie Holmes é mais corajosa que muito marmanjo metido a durão, a menininha se dá bem com Aiden desde sua primeira aparição. E é ele que faz todo o trabalho sujo da guria. Tem
que limpar um moinho? Lá vai o Aiden. Dar comida para ovelhas? Oras, chamem o Aiden. Acabar com uma corporação de policiais altamente treinados? Bingo! Quer dizer, Aiden.

Após algumas horas de jogatina sabemos o porquê de Aiden estar lá. Não vou dar spoillers, mas podemos dizer que a entidade já devia estar vagando por um bom tempo antes de conseguir se encostar.
Agora, peço licença para uma canção: “Nana nenem, que a Cuca vem pegar / Papai foi
na roça, mamãe foi passear”. Conseguem sentir o drama da criança que ouve essa coisa?
Se o papai está na roça e a mamãe foi passear, quem é que está cantando essa tranqueira?A Cuca? Então, meu amigo, corre!
Tudo isso só para dizer que Beyond não é um jogo para crianças. Confesso que levei alguns sustos durante a partida. Nada de se borrar todo, mas alguém mais desligado com certeza poderá se assustar com mais frequência.
Jogo ou filme?
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Ficha Técnica:
Beyond
Plataformas: PlayStation 3
Desenvolvedor: Quantic Dream
Distribuidor: Sony CE
[/pullquote] Quem jogou Heavy Rain já sabe o que esperar de Beyond. Porém, no título anterior da Quantic Dream o jogador controlava quatro personagens, dando mais corpo à trama e mais alternativas durante a partida.
Tudo bem que em Beyond é possível controlar Jodie e Aiden, mas muitas vezes essa escolha é imposta pela trama. Não podemos, por exemplo, bater perna com o Gasparzinho para barbarizar e arrumar altas confusões pelo bairro.
A grande sacada do jogo é que ele não conta a história de forma cronológica. As fases
são divididas em momentos importantes da vida de Jodie. Então, num momento temos
ação frenética com fugas mirabolantes e tiroteios com a polícia. Em outro, olhamos para a infância pacata da garotinha que tem medo do Lobo Mau. Esses saltos na história servem para a principal mecânica do jogo fazer efeito: as escolhas tomadas pelo jogador.
O que mais atrapalha “Beyond”, contudo, é o exagero nas ações de Quick Time Event, em que o jogador deve apertar o botão na hora certa. Enquanto alguns trechos essa mecânica é até aceitável, em outras, como uma simples corrida ou escalada de parede, pode se tornar bem irritante se sabemos que aquilo poderia muito bem ser feito por conta própria, com um simples movimento na alavanca analógica.
Nota: 7/10
[Apesar de todas as escolhas afetarem o desenrolar da partida, Beyond é bem
linear. Isso é até compreensível, já que a trama deve chegar ao final planejado pelo
diretor. Mas às vezes é irritante você querer fazer coisas como possuir o corpo de algum
cabra desavisado e só poder arrebentar algumas cadeiras.
No final das contas, o jogo se salva, e muito bem, pela magnitude da produção: atores inspirados, gráficos tecnicamente impressionantes para um título de PS3 e uma narrativa que mantém o jogador inquieto e aguardando ansiosamente o que está por vir. E se você ainda está na dúvida se deve jogar ou não, invista sem medo: ele entrega com êxito tudo o que promete. E o final é sensacional!]