
É fato: A indústria dos jogos já é o maior mercado do entretenimento. Já é maior que a indústria da música e a do cinema. Os videogames movimentam bilhões de dólares todos os anos e os jogos cada vez mais se parecem com os grandes filmes: blockbusters de verão, criados por equipes de centenas de pessoas, com orçamentos na casa de dezenas (ou centenas!) de milhões de dólares, e com investimento maciço em marketing.
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Ficha Técnica:
Call of Duty: Ghosts (Single Player)
Plataformas: Xbox One (Testado), X360, PS3, PS4, Wii U e PC
Desenvolvedor: Infinity Ward
Distribuidor: Activision
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Por um lado, isto mostra a força e saúde de nosso hobby. Nenhuma pessoa em sã consciência fala mais em “joguinhos”. Videogames viraram assunto respeitável, de gente grande. Por outro lado, isto traz para os jogos os mesmos defeitos que ajudaram a contaminar estas outras indústrias, principalmente a do cinema. Jogos com orçamentos fabulosos mas vazios, repetitivos, preguiçosos. Negócios. Franquias anuais. Marcas.
Talvez o exemplo mais acabado desta “nova indústria dos jogos” seja a franquia “Call of Duty” (CoD). Até quatro ou cinco anos atrás, era sinônimo de jogos bem-feitos, bem-cuidados, com história trabalhada. O final do primeiro ato de “Modern Warfare” ainda está na minha lista de “grandes momentos dos jogos”, por exemplo.
Mas algo saiu do trilho. O último jogo da série, “CoD: Ghosts”, parece um dos filmes da época ruim do 007, com Timothy Dalton: Uma sequência de abertura exagerada, barulhenta, beirando a comédia; explosões enormes; trocas de tiros no espaço; terremotos artificiais; terra implodindo; batalhas no fundo do mar; enormes cenas de batalha envolvendo tanques, aviões, helicópteros, barcos e até… Um cachorro guiado por controle remoto. Tudo para tentar jogar na sua cara “elementos de ação”.
Mas a mistura perde o ponto. Parece um filme do Michael Bay: Enorme, superlativo, rebuscado, frenético… Mas sem alma. Sem história. Um passatempo dispensável. Sabe aqueles filmes em que você levanta no meio pra ir ao banheiro, pergunta “alguém quer pipoca?”, conversa no telefone, volta depois de 15 minutos e descobre que não perdeu nada? Pois bem: Assim é “CoD: Ghosts”.
O roteiro é uma piada, com cenas exageradas, situações inverossímeis, personagens que não atraem e uma coleção de clichês de dar vergonha – da descoberta de quem é o vilão até o momento em que você conhece o verdadeiro líder dos Ghosts, todo o roteiro do jogo segue a linha de um filme vagabundo de baixo orçamento que acha que está te surpreendendo, mas na verdade telegrafa a história com uma antecedência enorme.
Some-se a isto diálogos preguiçosos e pouco imaginativos e uma história que se resumem basicamente a “Americanos salvando a América do inimigo da vez” (e desta vez somos nós! O inimigo é um império formado pelos países da América do Sul, liderados pela Venezuela. Sim, é sério.), cenas completamente irreais, um final do jogo igual ao dos últimos dois ou três (ou quatro) da série, com uma “cena pós-créditos” que tenta enfiar um gancho ridículo para continuação na sua cara, e temos um jogo risível.
E, grande defeito, supremo defeito para um jogo tão esperado: Facílimo e muito, muito curto – eu terminei o story mode em pouco mais de 5 horas, ainda procurando por colecionáveis.
Algumas das fases (18, todas muito curtas) são tão irreais, tão forçadas, que dá vontade de parar de jogar. Um exemplo extremo: Em uma fase submarina em que seu objetivo é afundar um barco, você troca tiros submerso com mergulhadores, se esconde de um sonar (um tipo de radar submarino) tão forte que pode matar, nada atrás de um barco gigantesco e… Precisa passar escondido por tubarões assassinos que nadam em círculos.
Então, por mais fã da série que eu fosse (e eu sou!), e por mais curta que fosse a aventura, em algumas vezes eu pensei em ir fazer outra coisa. Jogar outra coisa. Ver um seriado. O que, em se tratando do jogo-evento-blockbuster que a franquia CoD é, é uma pena. Espero de coração que a fase “Timothy Dalton” acabe e voltemos aos bons tempos em que os jogos da série pareciam os 007 do Daniel Craig: Tensos, realistas, sangrentos, difíceis, cheios de reviravoltas. Bons, em resumo.
NOTA: 6/10
[“CoD: Ghosts” é um filme de ação milionário, com explosões, sequências agitadas, mísseis lançados por satélites e um império do mal que invade os EUA. Mas é um filme de ação ruim, preguiçoso, com roteiro risível. Um ponto negro na série, que torço para que seja um momento de inflexão, e não a nova tendência. Fraco, mas pelo menos acaba rápido.]
* Esta crítica se refere apenas à campanha de “Call of Duty: Ghosts”. O multiplayer será analisado em um texto em separado!