
Sou um jogador do tempo em que os japoneses dominavam a indústria dos games. Época em que o PlayStation, o Saturn e o N64 tinham, em 90% de seus melhores jogos, obras feitas em solo nipônico. Entre minhas empresas favoritas, a Capcom era uma das que quase nunca me desapontava. E isso foi seguindo, até a geração anterior chegar e consolidar de vez as produtoras ocidentais e ver, pouco a pouco, um declínio do jeito japonês de se fazer jogos. Acabava, assim, anos e anos de influência japa em nossos consoles.
Devil May Cry 4 foi um dos últimos expoentes do jogo japonês de se fazer jogos. Ok, sabemos que a Platinum Games e sua Bayonetta manteve o mínimo de respeito pela cultura nipônica dos games nos anos seguintes e volta e meia vemos um ou outro Kojima se destacando com seus Metal Gear, mas DMC 4 é um caso explícito do fim dessa era: seu sucessor, ou melhor, seu reboot na serie, é ocidental. Muito bom, por sinal, mas completamente diferente da série nascida no arquipélago.
Sendo assim, ver Devil May Cry 4 Special Edition em gloriosos 1080p e 60 fps rodando lindamente no meu PC (a key gentilmete cedida pela Capcom era do Steam) me fez cair lágrimas nostálgicas. E o jogo, mesmo sendo o mesmo de 2008 com alguns avanços no quesito gráfico, continua muito divertido para os padrões atuais, exceto por falhas técnicas já sentidas no passado e que, infelizmente, nem poderiam ser consertadas.
Mecânica velha, mas que ainda dá um caldo
Devil May Cry 4 segue a fórmula já conhecida dos jogos antigos da série: é uma mistura de exploração de cenários,com algumas restriçoes de caminho que obrigam o jogador a eliminar todos os inimigos da tela ou, em casos especiais, adquirir um item especial.Assim como em Castlevania, algumas partes do cenário abrigam poderes especiais, que, se destruídos, oferecem glóbulos de energia ou de golpes especiais.
Na hora das lutas, o jogo promove combos gigantes com o uso da arma de fogo Blue Rose e da espada Red Queen, Dante traz, como novidade em relação aos três antecessores o braço especial Devil Bringer, que possui poderes deoníacos capazes de acessarem locais mais distantes e, durante o quebra-pau, agarrar os inimigos para lança-los longe ou iniciar combos devastadores.
Trata-se de uma fórmula bem conhecida, com algumas novidades pontuais, mas que garantem diversão ainda hoje graças ao bom casamento entre os controles ágeis e uma narrativa bem amarrada, com personagens carismáticos e repleta de reviravoltas.

Novidades da remasterização
“Devil May Cry 4 Special Edition” inclui o jogo original de 2008, que vendeu mais de 3 milhões de cópias mundialmente, e oferece novidades como a adição de três personagens jogáveis, o Modo Turbo, o Modo Legendary Dark Knight, roupas extras e diversas melhorias de jogabilidade.
No visual, o gráfico de Devil May Cry 4 sofreu um pouco em sua época. Para manter os 60 fps constantes em 720p, a Capcom abriu mão de resoluções muito altes nas texturas de boa parte dos inimigos e em muitos elementos do cenário. Isso sem falar que o jogo o Xbox 360 sofria horrorosamente com tearing, aquelas picotaas verticais quando a tela se movimentava bruscamente e, não menos horroroso, o PS3 mostrava serrilhados bem mais aparentes que o jogo do console da Microsoft.

Dessa forma, a Special Edition resolveu todos esses problemas e ganhou, além de um upscalling na resolução 1080p, texturas de alta resolução. Ainda assim, nem tudo são flores e alguns borrões ainda são notados em alguns demônios inimigos e em dezenas de pilares ou paredes espalhadas pelos belíssimos cenários do jogo.
E, a mecânica permaneceu intacta, a Capcom cumpriu a promessa: DMC 4 Special Edition tem, nas palavras da própria, “o maior elenco de personagens jogáveis de todos os jogos Devil May Cry até hoje”. Além do retorno de Nero e Dante que já estavam disponíveis no jogo de 2008, Vergil, Trish e Lady também podem ser controlados, e cada um oferece um estilo de jogo diferente. Além disso, a versão de pré-venda ainda ofereceu uma roupa bônus para Lady e outra para Trish no lançamento, ambas com aquele apelo sensual tão característico dos games japoneses -e convenhamos, já bem ultrapassado e até desnecessário em tempos atuais.
Nero Burning Demons
“Devil May Cry 4” chocou os jogadores à época pela a mudança de protagonista: saía o grande herói Dante, filho do demônio Sparda, para dar lugar ao jovem bonzinho Nero. Era uma aposta da Capcom para tentar revitalizar a franquia e não cansar o jogador do protagonista bad boy dos tempos do PS2.
Como DMC 3 era uma prequel dos fatos da saga, a história de DMC 4 é a verdadeira continuação de “Devil May Cry 2”. Se a troca deixou os fãs com uma pulga atrás da orelha, o início de Devil May Cry 4 tratou de colocar ainda mais dúvidas em suas cabeças, mostrando um avassalador e desvairado ataque de Dante a um culto da Ordem da Espada – adoradores de Sparda e governantes da cidade de Fortuna, onde vive o jovem Nero.
E assim começa a história, mostrando que o herói de antes agora seria o inimigo a ser batido – ou não, já que o começo fala pouco do que se seguirá e nem eu sou louco de dar spoilers gratuitos por aqui, mas se você ainda não jogar, esteja preparado para muitas reviravoltas e aparições de alguns personagens famosos da saga.
Nota: 7
[Graças à Sparda, Devil May Cry 4 envelheceu bem. É um jogo que, mesmo não sendo considerado o melhor da série, oferece um personagem interessante como protagonista e que dificilmente será reutilizado pela Capcom. As novidades da Special Edition propõe deixar o visual mais bonito e atualizado e os extras garantem diversão para quem deseja relembrar a história controlando novos personagens, mas o jogo deve mesmo é ser experimentado por quem o deixou passar na geração passada. Trata-se de uma compra bem consciente, ainda mais se analisar o seu preço camarada: R$ 49,99 (PC, no Steam) / R$ 50,99 (PS4, na PSN) / R$ 49,00 (Xbox One, na Xbox Live)]