
Acredite, você sentirá mais medo do que ele.
Desde que anunciado, “Dying Light” rapidamente se tornou para mim um dos jogos mais aguardados de PlayStation 4. Os vídeos de gameplay chamaram a atenção rapidamente pelos gráficos, mas também pela liberdade de exploração do cenário repleto de zumbis que poderia ser proporcionada pelo parkour. Previsto inicialmente para 2014, o jogo da polonesa Techland (a mesma de Dead Island) demorou mais do que o previsto e chegou somente em janeiro desse ano (em versões para PS4, Xbox One e PC), mas a espera valeu a pena: ele entrega tudo o que prometeu e mostra fôlego para se manter por um bom tempo como o jogo de zumbis mais divertido dos últimos tempos.
Admirável mundo morto
Antes de analisar “Dying Light” preciso fazer uma observação: ele é sucessor espiritual de “Dead Island”, um jogo que também foi muito esperado, mas que infelizmente não se destacou tanto por tornar a experiencia da ilha muito limitada. Em “Dying Light”, a ilha paradisíaca deu lugar a Harran, uma cidade repleta de prédios residenciais, comerciais e favelas.
Na trama, o local foi tomado por uma doença que transforma as pessoas em zumbis, tal qual Resident Evil e outros jogos de mortos-vivos e o jogador – no papel do agente especial Crane -, deve recuperar uma fórmula de vacina defeituosa que está matando os poucos sobreviventes do local. Como Harran é um labirinto de concreto, a Techland optou por incluir o parkour como opção na mecânica. Até dá para você fazer as ações furtivamente, mas os telhados sempre serão uma solução mais segura.
O sistema de parkour funciona muito bem: confesso que esse era um medo meu, pois tinha receio que a Techland optasse pelo mesmo sistema de Mirror`s Edge, que obriga ao jogador a pular de pontos que estejam com uma cor destacada, pois isso, apesar de muito bacana para um jogo linear, certamente estragaria a experiência de liberdade do mundo aberto. Do contrário, em “Dying Light” Crane pode pular de um ponto a outro com extrema liberdade, mas os controles são bem complexos e exigem treinamento para serem dominados.
Agora, o mais legal mesmo é o medo de morrer. “Dying Light” é um dos jogos de zumbis mais implacáveis da história. Realmente difícil e com recursos bem limitados de armas (há muitas opções no jogo, o problema é oferta e disponibilidade), o jogo possui um sistema de dano das armas, que as transforma em itens frágeis com pouco tempo de uso. Por exemplo, um cano com prego possui utilidade para matar os monstros apenas por pouco tempo, já que ao chegar ao desgaste máximo, a arma serve apenas para afastá-los, mas nunca exterminá-los definitivamente. Isso faz com que muitas vezes você realmente se sinta pressionado, em um beco sem saída, como várias vezes aconteceu comigo: em cima de um carro, com centenas de zumbis ao meu redor, mas sem uma arma eficaz na mão.
As armas de fogo existem, mas chamam a atenção dos zumbis, então quase nunca será a melhor opção. Na verdade, a simulação da experiência zumbi é tão grande que na maior parte do tempo o jogador vai preferir sair correndo ou fugir pelos telhados. Falando assim, até parece que o jogo não é nada linear e realmente não é. De vez em quando o jogo até tenta te orientar a fazer missões com tarefas específicas, mas a mecânica te permite realizá-las da forma que desejar. No fim das contas, o importante é realizá-la, não importando os meios.

Fear of the Dark
“Dying Light”realmente é difícil e pune os jogadores acostumados com “Dead Rising”e seus personagens exterminadores de zumbis no esquema “um contra milhares”. A limitada oferta de armas e a quantidade gigante de zumbis já torna isso um tanto impossível, mas até agora eu não tinha falado o mais importante. Isso tudo acontece de dia, quando a dificuldade do jogo ainda está moderada. No ciclo noturno, acredite, você vai torcer para acabar logo e ver o por do sol.
Em quanto de dia até dá para passear de boa entre lugares com zumbis comuns (desde que não faça barulho e com uma distância boa, claro), à noite, os zumbis mudam de comportamento, ficando mais agressivos e com um número maior de zumbis voláteis, um tipo bem chato que são tão agressivos que conseguem até subir em telhados para te pegar. Além disso, os doidos berram demais, o que piora ainda mais as coisas, já que chamam a atenção de mais e mais zumbis.
Eu não me lembro de ter sentido tanto, digamos, cagaço em um jogo de zumbis quanto em “Dying Light”. Além de extremamente habilidosos para subir em telhados e te buscar até no inferno, os desgraçados dos voláteis são extremamente resistentes e fortes. Definitivamente não é uma boa cruzar por eles.

Multiplayer, visual e dublagem
Se na campanha principal, “Dying Light” briilha, no multiplayer as coisas não são tão memoráveis. Não que esse modo seja defeituoso, nada disso. Funciona até bem e não causa muito estresse com longas demoras para conectar. O problema aqui é não acrescentar nada a não ser uma mão de obra amiga. Os personagens controlados pelos participantes são praticamente os mesmos, sem habilidades específicas para justificar a inclusão desse recurso.
Ah, há também um modo que permite ao jogador ser o zumbi e invadir a partida dos outros jogadores conectados – algo já incluso em “Watch Dogs” em seus modos de hacking multiplayer. A vantagem sobre o jogo da Ubisoft, é que esse modo ativado em “Dying Light” é mais naturalmente incluído, não atrapalhando no andamento das missões: basta tentar matá-los ou fugir como já faria normalmente com o zumbi controlado pela I.A.
Sobre os gráficos…bem, no começo, “Dying Light”, confesso, deu uma frustrada. Os visual não ficou assim tãaaaao impactante quanto eu pensava. Acho que passou muito tempo desde que eu me apaixonei pelos primeiros vídeos e de lá pra cá acabei vendo coisas tão bonitas visualmente, o que certamente não me causou tanta surpresa quanto eu esperava.
Porém, não serei louco de dizer que “Dying Light” não seja bonito graficamente. Os efeitos de luz e sombra são extremamente competentes, as texturas são incrivelmente realistas e os cenários são muito bem construídos.
Já a dublagem segue já a mesma – e excelente – qualidade dos demais jogos distribuídos pela Warner no país, com algumas vozes já conhecidas de filmes transmitidos na TV aberta e com atuações dos profissionais acima da média de outros games localizados em português. Além disso, o trabalho de tradução é impecável e livre de erros bobos na grafia ou no próprio sentido das frases. Para quem gosta de jogo dublado, é ótimo.
Nota: 9/10
[“Dying Light” não me surpreendeu pelos gráficos. Ainda bem. Se antes eu estava ansioso mais pelo visual, o que ficou de lembrança do jogo foi sua dificuldade extrema ao anoitecer, a experiência de jogo transmitida pelo sistema de danos das armas e pelo seu parkour complexo e viciante. É, sem pensar duas vezes, muito superior ao seu antecessor espiritual e ganha lugar destaque entre os melhores títulos de zumbi para videogame. Tanto que não descarto um pesadelo com os voláteis, aqueles malditos histéricos e irritantes.]
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