
Um dia após o término do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 2013, em que o piloto alemão Sebastian Vettel conseguiu seu quarto título, com uma superioridade tamanha que a disputa chegou ao fim com cinco corridas de antecipação, você pode reviver sua campanha, ou reescrevê-la, quem sabe, fazendo com que Charles Pic e sua Marussia alcancem o nível mais alto.
“F1 2013”, lançado em outubro deste ano pela Codemasters, está em sua quinta geração, desde que a empresa conseguiu a autorização da FIA (Federação Internacional do Automóvel), que era exclusiva da Sony desde 1995. Esta foi uma ótima notícia para nós, pois o contrato anterior fazia com que a Sony lançasse versões do jogo apenas para seus consoles, impedindo proprietários de consoles concorrentes ou computadores pessoais de apreciarem a emoção do maior campeonato de automóveis do mundo.
A versão avaliada é a “F1 2013 – Classic Edition”, para PCs. Disponível em DVD-ROM ou via Steam, a instalação ocupa cerca de 9 Gb de espaço em disco.
As exigências de hardware não são muito altas, dados os padrões atuais:
- Windows 7 (ou Vista)
- Processador Core2Duo de 2.4GHz (ou equivalente)
- 2GB de memória RAM
- Placa de video AMD/ATI HD2600 ou GeForce 8600
O jogo foi testado em um Dell XPS14 com
- Windows 7 de 64 bits
- Processador i7 de 2.93GHz
- 8GB de memória RAM
- VGA GeForce GT425M
Entusiastas, bem vindos
Logo de cara, o visual chama a atenção: não há quedas de frame rate ou qualquer outra instabilidade nos gráficos, que são excelentes e retratam com extrema fidelidade o design dos carros. Até mesmo os adesivos colocados nos capacetes são fieis.
Os circuitos também são representados com precisão e você pode ver as propagandas e arquibancadas nos locais corretos, tudo como tem que ser. É possivel ver, por exemplo, a roda gigante no parque de diversões do circuito de Suzuka no Japão, e também os restos do antigo circuito de Interlagos, antes da atualização de 1990.
Nenhum entusiasta reclamará de como o jogo está caracterizado. O modo clássico, do qual falaremos em detalhes adiante, ainda possui um desnecessário filtro que deixa a tela com um tom de sépia, onde tudo fica mais marom. Eu acompanho F1 desde 1986 e posso garantir que naquela época tudo já era colorido como é hoje.
Os sons são precisos e permitem a distinção clara dos sons dos carros modernos, sendo esta diferença ainda mais marcante nos veículos clássicos. Avaliamos o jogo ligado a um home theater: a configuração de cinco caixas (mais uma de subwoofer) e a separação de som funciona como deveria. É possível ouvir um carro se aproximando pelas caixas traseiras, assim como cada roda do carro travando em uma frenagem. Essa atenção aos detalhes, por parte da Codemasters, faz você conseguir uma imersão muito grande, algo realmente necessário.
É dada a largada
Antes de acelerar, um aviso aos gamers de PC: não recomendo jogar o F1 2013 pelo teclado, pois perde-se muito sem o controle analógico como um carro real. Além de joysticks, há suporte a uma infinidade de volantes, como os Logitech G25 e G27, os Fanatech Porsche e o CSR Elite, bem como o novo Thrustmaster T500RS. Esta versão foi avaliada com o joystick do Xbox360, por se tratar de um periférico de custo acessível à maioria dos jogadores de PC.
Pessoalmente, senti falta de uma configuração onde eu pudesse aumentar a velocidade de curva do volante. Senti que o mesmo poderia ser um pouco mais rápido, mas me acostumei a isso em algumas voltas.
É fundamental também usar um joystick em que o controle de aceleração e freios seja analógico e que possam ser acionados simultaneamente, pois o controle do automóvel depende desta precisão.
Existe uma certa crença de que um carro de Fórmula 1 moderno seja fácil de pilotar por contar com vários controles eletrônicos, ser mapeado constantemente pela equipe, possuir câmbio semi-automático, direção hidráulica entre outros recursos. Porém, essa falácia cai por terra quando se começa a jogar. O carro é extremamente complexo, muito rápido, acelera muito, freia muito. Tem que ter precisão absoluta com relação ao posicionamento do carro em curvas.
A escalada de um piloto
A fim de ambientar o jogador iniciante, o modo Carreira, que é o principal, começa com o “Teste de jovens pilotos”, onde são feitas uma série de testes, como aprender a acelerar e frear, atingir o ápice correto das curvas, aprender a usar o KERS (sistema de recuperação de energia), como e onde usar o DRS (Sistema de redução de arrasto, ou “asa móvel”), bem como aprender a guiar o carro no clima seco e na chuva.
Além disso, como parte deste treinamento, alguns vídeos são exibidos explicando conceitos como as diferenças entre os 4 tipos de pneus, como aquecê-los corretamente, frear, acelerar, e ultrapassar. Não pense que este teste serve apenas como um tutorial! Você é avaliado e dependendo de suas notas, as equipes podem lhe fazer propostas.
Ninguém quer começar na Fórmula 1 pela porta dos fundos. Logo, um bom desempenho nos testes pode garantir um contrato com uma equipe do meio do grid, como a Williams, a Sauber ou a Force India. Um desempenho ruim e você só receberá propostas da Marussia ou Caterham. Que medo.
Uma vez tendo escolhido uma equipe, você é encaminhado à Austrália para disputar a primeira corrida do ano em Melbourne, no circuito de rua de Albert Park. É seu primeiro dia na equipe e eu recomendo que cumpra todo o final de semana como um piloto de F1 faz: comece pelos treinos livres na sexta-feira e a equipe vai traçar alguns objetivos, como rodar cinco voltas abaixo de 8:30 minutos.
No sábado vem o “qualifying” e pode ser pedido que você se qualifique perto ou à frente de seu companheiro de equipe. É a regra de todo grande piloto: seu primeiro inimigo é seu companheiro, nada melhor que já começar na frente dele. Na minha jogada, eu consegui ser contratado pela Force India, que, por ser uma equipe com razoável orçamento, pôde me entregar um carro capaz de qualificar por volta da 12ª posição no grid.
Além disso, do primeiro treino da sexta para o “qualifying”, fui avisado pelo meu engenheiro que a equipe conseguiu fazer modificações na aerodinâmica do carro para reduzir o arrasto, e eu conseguir mais velocidade em retas. Essa é uma das vantagens de se aplicar e ir bem no Teste de Jovens Pilotos. Se você correr pela Marussia, eles vão pedir pra você trazer uma marmita e papel higiênico de casa.
A atenção aos detalhes da temporada é tão grande que todas as regras foram implementadas com sucesso pela Codemasters. Há um número limitado de jogos de pneus para o final de semana. Então, se colocar os pneus macios (chamados de Prime) e gastá-los em excesso na sexta e sábado, poderá não tê-los em quantidade adequada para o domingo, dia da corrida. Você pode acompanhar a porcentagem de utilização de cada jogo de pneu pelo monitor que é colocado no bico de seu carro, nos boxes.
No sábado também é definida a estratégia para a corrida, onde são escolhidos os pneus, as relações de câmbio (para o carro correr mais em retas, ou ter saída melhor em curvas), o ângulo das asas (onde o carro com “mais asa” tem maior aderência em curvas, porém menor velocidade final) e também ítens avançados, como a cambagem dos pneus (pneus com mais câmber tem mais velocidade e aderência em curvas, porém desgaste maior), o cáster (o ângulo do eixo do carro na vertical, o que faz o carro ter melhor desempenho em frenagens, porém pode deixar o carro instável nas acelerações), além da pressão dos pneus (a famosa calibragem).
A demanda é muito grande e você precisa se comprometer, se dedicar em aprender e praticar para extrair o máximo deste título. Que, a propósito, é muito longo: são 19 corridas, com 3 sessões de treinos em cada uma.
Acha pouco? Então o jogo lhe apresenta o “Season Challenge”, que lembra bastante o clássico jogo Super Monaco GP da Sega, mas aquele do Mega Drive. Nele, você escolhe um piloto e tem que ter resultado melhor que o dele. É muito bacana, e é preciso ler os emails que a equipe te manda para ter um melhor resultado. Existem dicas valiosas nestes emails.
Também existe o “Scenario Mode”, com desafios específicos, baseados em acontecimentos reais desta temporada, como ter de tirar uma desvantagem de 10 segundos após um pitstop ruim, ou precisar parar no meio da corrida para colocar pneus de chuva. Para quem já teve um SegaCD, o modo se parece com o jogo “F1 Beyond the Limit”.
Clássicos inesquecíveis
O maior atrativo desta versão do “F1 2013” é o modo clássico. Para alguém que como eu, começou a assistir às corridas nos anos oitenta ou para os que acompanham o “circo” mesmo antes disso, esse modo é maravilhoso.
Por restrições contratuais, nem todos os carros e equipes estão disponíveis. Apenas alguns dos anos 80, e alguns dos anos 90. Veja quais são:
– Lotus 98T, usado por Senna e Dumfries em 1986
– Lotus 100T, usado por Piquet e Nakajima em 1988
– Williams FW07B, que foi Campeão de 1980 com Alan Jones
– Williams FW14B, o “Carro de Outro Planeta”, campeão de 1992 com Nigel Mansell
– Ferrari F92, uma porcaria de carro de 1992, arrastado por Alesi e Capelli
– Ferrari F399, pilotado em 1999 com Schumacher e Irvine
Um detalhe ligeiramente esquisito é que nem todos os pilotos puderam ou quiseram assinar e liberar seus direitos de imagem. Então você escolhe o carro normalmente e em seguida escolhe um piloto original, que correu com aquele carro, ou um “lenda da equipe”.
Por exemplo, você pode correr com a Williams de 1980 com o piloto original, o rechonchudo australiano Alan Jones, ou com a lenda Alain Prost, que só correu pela equipe em 1993. É meio esquisito no começo, mas você se acostuma.
Por outro lado, você pode disputar uma posição na Williams de 1989, contra o Emerson Fittipaldi correndo na Lotus de 1986. Ou ver o Jody Scheckter, campeão de 1979, pilotando a Ferrari de 1999 do Schumacher.
Como pontos negativos, o modo clássico possui apenas quatro pistas, que não são mais usadas pela F1, que são o Circuito de Jerez de La Frontera, na Espanha, o Circuito Enzo e Dino Ferrari, em Imola, na Itália, a pista de Brands Hatch, na Inglaterra, e o Autódromo do Estoril, em Portugal.
Porém, eu percebi que a pista de Ímola, palco dos fatídicos acidentes de Roland Ratzemberger e do inesquecível Ayrton Senna, em 1994, não tem mais a curva Tamburello, que vitimou o brasileiro, e quase acabou com a carreira de Piquet em 1987 e Berger em 1989. A curva foi modificada, e está apresentada no jogo com sua configuração atual. Não percebi mudanças nos outros 3 circuitos. Outro aspecto negativo é não poder correr com os carros clássicos nas pistas atuais e eu adoraria andar com eles em Interlagos.
Outras pistas extintas da F1 poderiam ser adicionadas, e fica a esperança que sejam no futuro. De cara, lembro dessas: Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, Zolder na Bélgica, o traçado antigo de Monza, sem as chicanes na reta, o velocíssimo ciruito de Paul Ricard na França, as pistas de rua de Detroit e Phoenix, nos Estados Unidos e a pista de rua de Adelaide, na Austrália.
O modo clássico, embora bem menor que o Carreira, é bastante interessante por mostrar de uma maneira resumida a evolução dos carros nos anos 80 e 90.
Você pode começar por um carro relativamente simples como a Williams de 1980, um carro tradicionalíssimo com motor Ford Cosworth DFV V8 de aspiração normal, pouquissimos recursos aerodinâmicos, freios de aço, câmbio manual ou experimentar a brutalidade do motor turbo alimentado de mais de 1000 cavalos da Ferrari F1/88, usada na temporada de 1988, que exige cuidado extremo com as acelerações e retomadas, pois a potência extra do turbo é despejada nas rodas com muita violência.
Outro destaque é o o Williams FW14B de 1992, que é considerado o carro mais avançado tecnologicamente da história da F1. Ele possuía controle de tração e estabilidade, freios ABS, suspensão ativa, além de pneus muito aderentes, e um motor Renault V10 muito potente, culminando na jóia final dos anos 90, a Ferrari F399, um automóvel fantástico, muito estável, com capacidade de frenagem fantástica, acelerações incríveis, porém com os pavorosos pneus com sulcos.
Correr com cada carro requer uma técnica completamente diferente de pilotagem e entender essas diferenças é o aspecto fundamental para um bom desempenho. Não há como fazer uma curva com a Lotus de 87 do mesmo jeito que faria com a Williams de 1997. Ou você realmente achou que isso seria possível?
No braço
A simulação é incrivelmente complexa. Você também tem acesso a 3 mapas da Injeção Eletrônica, que possibilitam a mistura ar-combustível mais rica ou mais pobre conforme a necessidade. Isso pode deixar seu carro mais veloz, porém com consumo maior, ou deixá-lo mais econômico, porém com desempenho inferior. Pilotos experientes conseguem mudar isso diversas vezes durante uma mesma volta.
O KERS, sistema de recuperação de energia gerado nas frenagens, pode ser usado por cerca de 7 segundos por volta, e entrega mais 80 cavalos de potência ao motor. E ainda há o DRS, a popular “asa móvel”, que pode ser acionada normalmente a partir da terceira volta da corrida e desde que se esteja a menos de um segundo de distância do carro à sua frente.
Ao errar uma curva e passar com uma roda fora do asfalto, fará com que o pneu colete terra, grama ou pedriscos, e a aderência também estará comprometida até que ele fique limpo. Pelo controle, você percebe quando o carro está em substerço (com a frente escorregando) ou sobresterço (com a traseira escapando), quando o carro está com as rodas travadas em frenagem ou até perceber quando o pneu está trepidando, seja por um toque no muro, seja por ter ficado “quadrado” após uma derrapagem.
Todas essas coisas rendem um texto extra com dicas de pilotagem, que em breve estará disponível aqui no Kapoow.
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Ficha Técnica:
F1 2013
Plataformas: PC (Steam), PlayStation 3 e Xbox 360
Desenvolvedor: Codemasters Birmingham
Distribuidor: Warner Bros. Games (Brasil) e Codemasters (EUA)
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Nota: 9/10
[ “F1 2013” é um ótimo investimento. E o retorno é garantido, pois você não conseguirá cumprir todos os objetivos propostos em apenas alguns dias. Podemos afirmar que haverá bastante trabalho e diversão por alguns meses. Se bobear, até sair a versão 2014! Esta longevidade é garantida pelos extras do jogo, que complementam o modo Carreira, como o “Season Challenge”. Por tudo isso, recomendamos à todos aqueles que queiram se comprometer, ainda que de maneira apenas virtual, com a mesma intensidade e dedicação dos pilotos reais.]
Um dos melhores reviews de jogos que já li, parabéns!
Ótima análise.
Roda no Win 8 ?
Rita, roda sim em Windows 8, de 32 e 64 bits. Eu testei no Windows 7 de 64 bits, e em um Windows 7 de 32 bits, sem o menor problema.
Muito obrigado, Marcos. Recomendo a compra do jogo.
Parabéns pelo review. Não comprei ainda pro XBOX por causa do preço… vou esperar Janeiro pra ver se baixa um pouco (depois do Natal). Além disso fiquei decepcionado por não ter nosso eterno ídolo, Ayrton Senna
Excelente análise, Carlos. E não sei se você também achou, mas essa versão está bem mais difícil que as anteriores, mesmo nos modos mais fáceis.
Quanto aos circuitos, deve ter sido exigência da FIA a presença de Imola já com a Tamburello desfigurada. Os outros autódromos não mudaram dos anos 80/90 pra cá.
E tomara que no 2014 e posteriores adicionem mais equipes e circuitos clássicos. Cadê a McLaren, por exemplo?