A detenção dos direitos em definitivo para a Ubisoft fez bem à série Far Cry. Criada pela Crytek, a franquia poderia caminhar a passos largos para se tornar uma espécie de “Crysis” em cenários paradisíacos, cujo gráfico belíssimo serve como muleta para minimizar uma mecânica sem graça.
E apesar da aventura na savana de “Far Cry 2” ter ficado na história como um bom episódio na geração anterior, foi no terceiro capítulo que a franquia se reinventou e mostrou uma trama empolgante e com um inimigo incrivelmente especial. Assim, a Ubisoft resolve seguir o mesmo caminho e navegar em mares conhecidos. E, apesar de ficar devendo por grandes novidades, Far Cry 4 é bem sucedido ao prender o jogador e oferecer muitas horas de diversão.
Bem-vindo a Kyrat (só que não)
A fórmula mais do mesmo começa pela trama. Ajay é um cara que viajou para Kyrat, no Himalaia, para realizar o ultimo desejo da sua mãe. E, assim como em Far Cry 3, o simples turista acaba se tornando um guerrilheiro lutando pela sua sobrevivência.
O que muda um pouco a ‘responsa’ de Ajay é seu comprometimento moral em seguir o Caminho Dourado e honrar a memória de seu pai, um cara bem respeitado por lá. A missão, além de sobreviver, é livrar seu novo ‘povo’ da tirania de Pagan Min, um odiável e incrivelmente divertido antagonista.
Essa fórmula já havia dado certo com Vaas no terceiro jogo e volta agora: a personalidade bem definida de Pagan Min faz com que a trama ficasse ainda mais envolvente e divertida. E isso é só o que posso dizer no momento, até para evitar spoilers. =)
Pagan Min é, guardadas as devidas proporções, uma espécie de Kim Jong-un: Adora aparecer como um ‘Mr. Nice Guy’, mas na verdade é um belo desgraçado. Deseja festas incríveis e flerta a todo instante com a cultura do ocidente (em uma das cenas, ele chega até a citar o nome do ex-Chicago Bulls Dennis Rodman, que na vida real, é um grande amigo do ditador norte-coreano). O cara tem carisma, mas oprime sem culpa alguma e coleciona uma série de desafetos.
Só para constar, o jogo está totalmente em português e a localização em áudio está bem feitinha, com ótimo sincronismo labial e boa atuação dos dubladores.

Visual lindo, mas não impactante
Far Cry sempre foi sinônimo de gráficos surpreendentes. Foi assim com os três primeiros jogos da franquia, mas em Far Cry 4 pode-se dizer que artisticamente o jogo é lindo, mas não chega a ser impactante tecnicamente. Não há uma explosão que encha os olhos, partículas que já não tenham sido vistas ou reflexos do sol na água ou entrando nas cavernas que já não sejam comuns aos olhos dos jogadores mais atentos.
Em compensação, graças ao poder de processamento do PS4 e Xbox One, o jogador ganha animações mais suaves e um jogo muito mais estável se comparado ao seu predecessor rodando nos consoles. E os animais são retratados de forma exuberante, desde os tigres peludos até a pele enrugada dos elefantes e rinocerontes.
O que já mostra certo desgaste desde o terceiro jogo e que poderia ser melhor é o rosto nada realista dos personagens, principalmente nas mulheres do vilarejo. Ainda há um cenário se montando aqui e ali, mas nada que atrapalhe a experiência.
E não há como falar de Far Cry e não citar a experiência de exploração do vasto mapa inspirado no Himalaia. Kyrat reproduz um cenário de muitas montanhas congeladas (muitas escaláveis), vastas florestas, lagos cristalinos (aptos para banho e mergulho) e cavernas. Além disso, há diferentes formas de passear pelo cenário, como a asa-delta, os carros e motos.

FPS com algo mais
Além de ser muito competente como jogo de tiro em primeira pessoa, Far Cry 4 conta com diferentes formas de abater os inimigos além das já tradicionais armas de fogo.
É possível carregar molotovs, arco e flecha (com bombas tradicionais e explosivas), atacar montado em elefantes ou atirando sobre rodas. outra opção muito divertida para não fazer barulho com tiroteio é jogar iscas para os animais atacarem os soldados rivais, mas nem sempre há um bicho por perto e, mesmo quando tem, depende da fome deles para rolar. Vale destacar que as missões, apesar de distantes umas das outras e exigirem veículos muitas vezes para chegar, são relativamente curtas e não cansam o jogador, mesmo que em várias vezes sejam mais cascudas e exijam repeti-la até conseguir terminá-las. Isso é um belo trunfo para equilibrar um jogo que surpreende pela imensidão do seu mapa.
Além disso, quando não está em batalha, o jogador pode explorar o vasto mapa em busca de ítens no já manjado esquema de ‘suba na torre, libere a localização dos tesouros’. Apesar de acabar com a graça da exploração, a possibilidade de enriquecer para melhorar seu personagem faz com que o jogo ofereça dezenas de horas a mais de jogo.
Eu já vi isso aí, mas quero ver de novo!
No fim das contas, fica a pergunta: Se Far Cry 4 é tão parecido com seu predecessor, então porque investir nele? A resposta é tão honesta quanto a proposta da Ubisoft: a fórmula é boa, não enjoou e o cenário é outro.
Trocar a ilha tropical pelas montanhas do himalaia oferece diferentes formas de se explorar o jogo. além disso, os animais compõe um elemento muito interessante da mecânica, seja montando, caçando ou servindo de aliado ao atacar os inimigos em missões furtivas.
Além disso, a trama, apesar de beber da mesma fonte ‘turista que vira heroi’, conta com um inimigo de personalidade levemente diferente (Vaas era mais sádico, Pagan Min aparenta até uma ingenuidade em certos momentos). Acrescente ao pacote um modo multiplayer ok (sem nada de muito profundo, mas divertido para gastar algumas horas ou dividir missões cooperativas) e uma mecânica bem feita.
Finalizando, recomendo MUITO esse vídeo do Gamerview, que mostra algumas partes da mecânica e mostra a diversão de pilotar um elefante! =)

Nota: 8
[Se não fosse tão parecido com seu antecessor em tantos elementos, Far Cry 4 poderia facilmente ser apontado como o jogo do ano passado, mas realmente faltou algo mais. Ainda assim, é inegável que a repetição competente da fórmula que deu certo e a inclusão de mecânicas bem implementadas ao cenário de Kyrat e sua própria fauna o credenciam como uma ótima opção de compra. É mais do mesmo sim e nem se esforça para afastar essa impressão, mas é incrivelmente divertido. E tão imperdível tanto quanto o seu antecessor.]
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