
Acredite: o X360 faz esse visual nas animações
Por Hugo Ramos – Colaboração para o Kapoow
Enfim, ele voltou. O espião mais famoso dos consoles começou o aquecimento para aportar na nova geração, mas não esqueceu de dar o ar da graça nos consoles da geração 360/PS3.
E ‘começar o aquecimento’ é o termo mais correto para definir “Metal Gear Solid 5 – Ground Zeroes”. Ele vem para mostrar a nova engine que será usada na franquia e, de quebra, inserir mudanças mais que bem vindas na série, tornando-a ao mesmo tempo mais acessível e mais complexa.
O único problema visível e esse realmente desaponta é que “Ground Zeroes” mal dá para um tira-gosto, de tão curto que é.
Missão: O resgate
Situado exatamente um ano após os acontecimentos de “Peace Walker”, Snake (também conhecido como Big Boss) descobre que Paz e Chico estão presos numa base americana no dia de uma inspeção na sede a MSF, a Militaires San Frontiers, a organização paramilitar privada de Snake e Miller.
A Operação Ground Zeroes é simples: Entrar na base e resgatar os dois. Se você tiver perdido “Peace Walker” é possível ler um resumo do jogo e ouvir alguns arquivos de áudio que explicam o que aconteceu no game nesse intervalo de um ano. A primeira boa novidade é que está tudo legendado em português do Brasil.

Visual embasbacante
A primeira coisa que chama a atenção são os gráficos: a introdução e as (curtas) animações in-game proporcionadas pelo Fox Engine usam texturas e efeitos do mais alto nível. Exceto por alguns pequenos detalhes, até parece um jogo da next-gen. O único demérito nesse ponto é que para conseguir o visual adequado, o frame rate foi intencionalmente reduzido.
As animações parecem rodar em algo em torno de 24 FPS, o que não prejudica o andamento, mas incomoda um pouco pelo ritmo demasiadamente cadenciado. Já a ação em tempo real roda travado em 30 FPS por segundo, sem quedas notáveis em nenhum momento, nem quando repleto de inimigos, explosões e efeitos de luz.
A maior diferença entre “Ground Zeroes” na versão next-gen e na atual está no frame-rate (60 FPS cravados na nova geração) e na resolução, o que deixa os efeitos e visuais mais nítidos na nova geração, mas tirando isso, “Ground Zeroes” no 360 é realmente embasbacante.
Visualmente, “Ground Zeroes” faz pensar a real necessidade de pular rapidamente para uma nova geração. Efeitos de chuva, reflexo, iluminação e sombras são impecáveis. Como o jogo se passa à noite em meio a uma tempestade, tecidos tremulam, raios iluminam tudo e a chuva constante castiga o terreno enlameado. Tirando algumas resoluções baixas em placas, o jogo chega até enganar algum desavisado que aquele gráfico é mesmo da antiga geração.

Conheço essa voz…
A parte sonora merece uma atenção especial. As trilhas de Harry Gregson- Willians são fantásticas como sempre. As novas músicas dão o clima perfeito para infiltração, assim como ditam o ritmo do jogo com maestria.
O elenco de dubladores são os mesmos dos últimos games, mas há uma notada alteração de elenco que era muito temida pelos fãs: desde que Snake ganhou voz em Metal Gear Solid no PS1, a voz sempre foi de David Hayter. Sem nenhuma explicação plausível (a não ser atrair visibilidade, apesar da desculpa do motion capture) o velho dublador foi substituído sem cerimônias por niguém menos que Kiefer Sutherland, o bom e velho Jack Bauer.
Serei justo: o cara fez um esforço incrível para fazer com que a voz soasse o mais próximo possível do velho Snake, e até que ele convence bem. Há momentos em que você mal distingue a voz do ator para a do antigo dublador, mas se era para imitar o anterior, havia realmente a necessidade da mudança? Eu não consigo encontrar uma resposta plausível para isso.
[pullquote align=”right” textalign=”left” width=”30%”]
Ficha Técnica:
Metal Gear Solid: Ground Zeroes
Plataformas: Xbox 360 (testado), Xbox One, PS3 e PS4.
Desenvolvedor: Kojima Productions
Distribuidor: Konami
[/pullquote]
Ainda sobre as vozes, o papos no codec agora são imediatos, bastando apertar o botão de rádio. Sem interrupção da ação e o save automático em pontos predeterminados, diminui o tempo que você passa passeando em menus.
Mecânica refinada e mais realista
A mecânica originalmente inserida em “Peace Walker” foi refinadas: Agora, ao se pressionar a mira no gatilho esquerdo, a câmera segue o ombro em um visual similar ao de “Resident Evil 4”. Um simples toque no botão de zoom (ombro direito) faz com que a câmera assuma uma visão em primeira pessoa. Enquanto segura o gatilho, você pode se mover com a mira em primeira pessoa como num FPS, mas dessa forma seu ângulo de visão fica comprometido.
O novo mundo aberto de “MGS” propõe novas mudanças na abordagem. Agora Snake é mais “moderninho”, contando com um novo sistema de identificação de inimigos: Um binóculo fotossensor anexado ao seu mais novo brinquedinho: o iDroid. Todos os inimigos que forem focalizados ficam indefinidamente marcados e visíveis, mesmo através de paredes. Vale notar que mesmo em uso, o iDroid não pausa a ação. Então, se ficar brincando no mapa, inevitavelmente você será visto.
Sendo assim, antes de invadir qualquer lugar é preciso sondar a área com o binóculo, detectar os inimigos e marcá-los. Depois de marcados, você pode visualizá-los em tempo real na tela de jogo, mesmo que eles estejam atrás das paredes. Isso em… 1974!
Não há nenhum tipo de radar ou indicação visual do alcance da visão dos inimigos, mas agora é fato que “Ground Zeroes” está mais realista. Se não se mover com cuidado, vai acabar dando de cara com alguém numa curva ou ser visto por um guarda na outra ponta do pátio.
Antes de ativar definitivamente um alarme, a exclamação aparece no inimigo e um reflexo da lanterna dele marca sua posição na tela. Se você sumir da vista dele, ele logo volta a patrulhar. mas se for detectado, surge modo de câmera lenta e você tem um tempo para abatê-lo antes de soar o alarme.
Em “Ground Zeroes” é possível carregar até 3 armas (uma metralhadora no corpo, uma pistola na cintura e uma arma de grosso calibre nas costas) e trocar de equipamento pode ser constante de acordo com a abordagem. Silenciosos se desgastam com rapidez, portanto evitar o combate é uma necessidade, pois logo a base inteira está na sua cola.
Ativando o iDroid, você consegue navegar pelo pequeno mapa do jogo. A base pode ser percorrida totalmente em cerca de 20 minutos se você correr feito louco e o mapa completo é facilmente visualizado na tela do seu iDroid. Inimigos rendidos podem fornecer informações sobre itens escondidos que ficam marcados no mapa.

Objetos marcados e pontos da missão ficam constantemente na tela de jogo, assim você não tem muito como se perder. Como foi dito, basicamente a missão é entrar na base e regatar Chico e Paz. Enquanto o primeiro resgate é basico (o ponto fica marcado no mapa, basta chegar lá e depois fugir carregando o alvo até o ponto de entrega) o segundo tem uma proposta mais interessante.
Depois do impacto visual inicial, pequenos problemas começam a pipocar, sendo o mais notório a vegetação. Ao invés de objetos em 3D, são pequenas texturas 2D que destoam do resto do cenário. Elas são funcionais (é possível se esconder nelas) e se movem de acordo com a sua interação, mas sendo 2D, elas dão um senso errado de profundidade. Tendo em vista que “Metal Gear Solid 3” tinha uma vegetação rica e interativa totalmente 3D, fica um incômodo que talvez seja resolvido em The Phantom Pain.

Muitas coisas em “Ground Zeroes” aprecem implementadas apenas para testes, como a direção veicular. Você pode entrar em um caminhão e sair dirigindo, mas isso só serve para focar todos os holofotes em você.
A corrida em campo aberto também é uma nova opção, bastando pressionar o analógico, é possível correr como um louco, até carregando alguém nas costas. É uma opção útil mas faz com que você seja visto com mais facilidade, não só porque você passa correndo na frente de todos, mas pelo barulho que você faz.
Dar um passo mais apressado atrás de um inimigo faz com que ele entre em alerta, assim como destrancar portas ou disparar uma arma. Em contrapartida, você pode dar vários tiros de tranquilizante nos inimigos e parece que eles nem ligam: ficam olhando pro dardo, para um lado e para o outro, mas não saem para procurar…

O que é bom dura…tão pouco?
O que mata e invalida totalmente a compra de “Ground Zeroes” é a sua duração: a missão não dura mais do que duas horas, contando as animações, isso se você já é experiente na série. Para quem nunca jogou e está pegando a série pela primeira vez, talvez a trama dure um pouco mais de 3 horas. E depois de terminado, eu consegui terminar novamente em menos de uma hora de jogo.
A campanha solo é muito curta (apenas 2 objetivos) e mesmo que você possa tomar abordagens diferentes para concluir a missão, o tempo de duração é aproximadamente o mesmo. Há itens espalhados pela fase, como as insígnias da XOF, para serem coletados, mas a não ser que você queira mais alguns pontos na sua gamertag, não vale o esforço.
Depois de terminado, novas missões são selecionáveis na tela principal, mas basicamente é o mesmo mapa, em diferentes condições meteorológicas (em Phantom Pain a mudança será em tempo real) o que dá a impressão de estarem ali apenas para ‘encher linguiça’ e testar a engine em outras situações, já que são missões bobas e sem enredo. Apenas para constar pontos numa tabela de rankings (única interação online possível) e estender a duração do game.
O preço americano já não era muito convidativo (U$ 39,90 no 360/PS3 – U$49,90 no One/PS4,com lançamento em 18/03) mas o preço nacional está uma verdadeira facada ( R$ 99,90 no 360/PS3 e R$ 119,90 no One/PS4, com lançamento atrasado novamente, agora entre 4 e 8 de abril).
É um jogo excelente e com um replay value aceitável caso você esteja com saudades do Snake, mas o preço poderia ser mais camarada, até porque o jogo é consideravelmente pequeno.
Nota: 7/10
[“Seria um dos melhores “Metal Gears” de todos os tempos, se a curta duração e a inserção de atividades inúteis in-game não fizessem parecer mais um teste do motor gráfico do que um jogo completo. Vale a pena, mas só se você arrumar mais barato.”]