
A vida dos produtores de Pro Evolution Soccer não foi nada fácil desde que a série migrou do PS2 para o PS3. A série patinou demais com um motor gráfico ultrapassado e seguidas vezes tão remendado que passava a impressão de um mero facelift de carro popular. Apesar da cara bonitinha em alta definição, era inegável que a física era muito aquém do precessamento do PS3.

Após a saída do lendário Shingo ‘Seabass’ Takatsuka, a série se arriscou demais no ano passado ao tentar se focar na simulação e, apesar do salto gráfico proporcionado pelo Fox Engine. Estava claro que a nova física representava um avanço que os fãs esperavam por anos, mas o jogo perdeu as referências de suas raízes na mecânica lenta, desapontando os fãs. O que faltou, na verdade, foi a Konami acertar um equilíbrio entre a simulação da realidade e a mecânica arcade.
Em Pro Evolution Soccer 2015, enfim, os produtores acertaram a mão. O jogo manteve a física do ano passado, que adicionou um toque de bola e disputas corpo-a-corpo mais refinados, mas conseguiu encontrar um meio-termo. O jogo tem uma mecânica simples, prática e ágil, mas sua física mais complexa e a inteligência artificial evita que as partidas caminhem para as jogadas manjadas de outrora, com correria infindável pelas laterais e cruzamentos rasteiros de longa distância. Respirem aliviados, fãs de PES. Está tudo bem agora.

TUDO EM SEU DEVIDO LUGAR
Quando se pensa em Pro Evolution Soccer, os fãs de FIFA retrucam: “Pra jogar PES, basta correr e lançar com o triângulo”. De fato, a mecânica arcade do jogo nunca se esforçou em evitar que isso acontecesse, enaltecendo com frequência a habilidade de corrida e privilegiando o time com jogadores mais rápidos em detrimento aos mais habilidosos.
Agora, em PES 2015, a Konami finalmente encontrou uma saída: a inteligência artificial dos defensores e um intuitivo sistema de defesa controlado ao segurar o [ ] faz com que os defensores controlados pelo computador deem o primeiro bote, dando liberdade para que o jogador posicione o seu atleta para pegar a sobra ou até marcar um possível jogador que vai receber a bola. Com isso, a tática de lançamentos com triângulo e R1 + triângulo foi enfraquecida, melhorando e muito a dinâmica do jogo e equilibrando mais os jogos multiplayer.
Ainda é possível lançar jogadores em jogadas de bola enfiada? Ainda dá, mas agora depende muito mais da habilidade de passe de seu jogador, do posicionamento e velocidade do receptor e, principalmente, da sua percepção e reflexo rápido em lançar manualmente segurando L1 para os espaços livres de adversários. Resumo: acabou a mesmice da jogada manjada e automática. Em linhas gerais, para vencer em PES 2015 tem que ser bom de verdade.
A explosão e velocidade do jogador, sempre tão criticadas até PES 2014 (que ficou lerdo até demais), finalmente estão bem reproduzidas. Os atletas não são tão lerdos, mas correm bem mais sem parecerem maratonistas. No entanto, como o espaço dado pela I.A. é menor, os dribles estão mais difíceis de serem feitos, sobretudo mais próximos à grande área.
O modo como a bola corre, as disputas pela bola e a relação do peso e força dos atletas contam mais para melhorar ainda mais a forma como a física rege a simulação moderada do jogo. O grande trunfo de PES 2015 é até parecer com um jogo real sem comprometer a principal qualidade da série: a diversão e controles precisos. E o jogo é realmente viciante, agradável de passar horas na frente da tela jogando Master League ou se aventurando no modo online.
E, para quem gosta de uma pegada mais ‘arcade’, é importante citar que faltas e escanteios nunca foram tão viciantes para se treinar e tão desafiadoras para marcar. Entretanto, desafio não significa complexidade: o sistema de flechas indicando o caminho a ser percorrido pela bola facilita bastante e é fácil de começar
O gerenciamento de times, assim como as táticas personalizadas seguem as mesmas do ano passado, ou seja, ainda estão muito aquém do que já foi oferecido em anos anteriores, mas não chegam a comprometer a experiência de jogo.
Agora, uma ótima notícia para quem tem PlayStation 3 ou Xbox 360: tudo o que citamos aqui está presente para o jogo desses consoles, sem qualquer perda ou adaptação de conteúdo, exceto, claro, os gráficos e animação dos atletas. É um incrível incentivo para quem ainda não migrou de plataforma investir nesse jogo, mesmo no fim da vida dessas duas plataformas.

LINDO, MAS AINDA PODE MELHORAR
Graficamente, Pro Evolution Soccer 2015 é até superior ao seu rival FIFA. Os jogadores são reproduzidos mais fielmente em relação aos atletas reais, com detalhes minuciosos de pintas e imperfeições na pele. Se colocarmos lado a lado os atletas de PES com os de FIFA, o jogo daa Konami vencerá sem muito esforço. De fato são mais parecidos. Há, no entanto algumas falhas que podem ser corrigidas em futuras versões, até analisando o poderio do PlayStation 4 e Xbox One.
Para começar, os cabelos não são tão realistas e não se mexem, mesmo em corridas. É uma pena, já que os rostos são ultrarealistas e os cabelos destoam um pouco.
Apesar de belíssimos e muito bem construídos,os estádios carecem um pouco mais de vida, como uma participação mais ativa dos gandulas, treinadores e jogadores reservas, algo que já ocorre em FIFA e serve para transmitir o clima mais realista do que rola dentro das quatro linhas. Já a torcida continua muito boa e, assim como no ano passado, tem diferentes reações de acordo com a cultura de seu país.
O gramado conta com imperfeições que saltam aos olhos, mas a vegetação não é danificada com os chutes, nem com carrinhos. O que é possível, na verdade, é escolher o nível de dano antes da partida começar, o que chega a ser frustrante. A chuva também tem performance similar. É bem reproduzida, inclusive simula de maneira bem realista a força do vento e fica linda em contraste com os refletores, mas quando ela cai no gramado, os jogadores não notam diferença; ela não atrapalha e sequer deixa seu rastro quando pisam.

QUE É ISSO, MALANDRO?
Silvio Luiz e Mauro Beting são ótimos profissionais do jornalismo esportivo e o talento dos dois reflete também na narração de Pro Evolution Soccer há anos, mas a chegada da nova geração pode melhorar isso um pouco mais.
É óbvio que Mauro Beting tem conhecimento de sobra para brilhar mais nos comentários do que nas simples falas programadas pelos japoneses da Konami. Em um Palmeiras x Corinthians, por exemplo, ele acaba limitado a falar coisas sem muito conteúdo, apenas para servir de suporte ao Silvião, como “Só dá para esperar um bom jogo aqui”, ou seja, é a mesma fala que ele usa em Al Nassr x Real Madrid.
Isso é muito pouco e Mauro poderia contribuir muito mais. Ele poderia comentar sobre a situação dos times nos últimos anos, sobre a história dos estádios e dos confrontos clássicos. Tudo isso ele tem conhecimento para falar e Caio Ribeiro já faz isso em FIFA, o que mostra que é possível fazer.
Da mesma forma, o monstro Silvio Luiz sofre com a entonação esquisita em vários momentos, sobretudo quando ele quer falar o nome de algum atleta. Seus bordões bem humorados também fazem falta, pois são pouco utilizados. É uma pena, pois isso apenas confirma que a dupla acaba limitada pelo script mundial enviado pelos japoneses, sem muitas oportunidades para oferecer um conteúdo mais voltado ao público nacional.
Já a trilha sonora, apesar de curta, é a melhor em muitos anos. A Konami investiu em músicas famosas como ‘All for Nothing’(Linkin Park), ‘Demons’ (Imagine Dragons), I Need your Love (Calvin Harris) e ‘Best Day of My Life’(American Authors). É óbvio que para um jogo com validade de um ano, uma hora elas vão cansar, mas são de qualidade incontestável.

MY CLUB É JOGADA DE CRAQUE DA KONAMI
Se o horrendo menu de PES 2014 causou a ira dos fãs, nesse ano não há do que reclamar: o menu é belíssimo. Além de prático, dividido por abas e com grandes janelas para cada modo – lembra até o Windows 8 -, ele permite ainda a personalização, então o jogador pode agrupar seus modos preferidos na primeira página.
Tudo o que era bom voltou: amistosos, torneios nacionais e internacionais e os três torneios continentais: Libertadores, AFC e UEFA Champions League.
A Master League também está bem mais bonita e completa do que no ano passado, com menus mais fáceis de navegar e uma melhor representação de fatos importantes, como a contratação de um jogador, coisa que no ano passado era feito de forma superficial, sem muita importância. Ainda carece de novidades realmente contundentes, mas ao menos está mais agradável de jogar do que aqueles blocos de menus do ano passado.

O treino de Habilidades é um ótimo modo tutorial para ensinar todos os comandos básicos e avançados do jogo, mas também esconde quatro troféus para os jogadores hardcore. São desafios curtos, mas bem executados para manter o interesse do jogador sem punir muito, nem gastar muito do seu precioso tempo.
Por fim, e mais importante: o myClub. Esse modo chegou para substituir o bisonho Master League online e já oferece um sistema mais justo do que seu antecessor.
Aqui, o objetivo é montar um time bacana para jogar partidas off-line ou no multiplayer online, sendo que os atletas tem contratos curtos de 10 jogos e devem ser renovados com dinheiro real (ah, taca-lhe micro-transações…) e , por sorte, GPs, que são as moedinhas virtuais oferecidas a cada final de partidas.
Como a pontuação é boa até para quem perde, a Konami encontrou uma forma de evitar que o jogador saia do Lobby antes da hora. E até a contratação de jogadores é feita por um script de sorteio. Quanto mais você paga por um empresário melhor, maior a probabilidade de ele te dar um jogador de alto nível mundial. Isso evita que apenas os jogadores mais habilidosos tenham sucesso, já que o myClub premia mesmo é quem se dedica e joga cada vez mais partidas.

Todo o progresso é dividido em divisões, que começa na 12ª e vai diminuindo até que ele chegue na 1ª. Para chegar lá, não é preciso obrigatoriamente vencer jogadores líderes do ranking, basta se dedicar e jogar muito. A cada jogo, seu nível de habilidade cresce mais, mas o jogo o desafia com uma tabela de progressão que avisa quantos jogos você precisa vencer para subir de nível. Com isso, a evolução do nível do jogador é gradual e sem pular etapas. Ninguém vai ser líder do ranking da noite para o dia.
É uma ótima adição à série e tem tudo para vingar como um modo fixo nos próximos anos. Como o modo online de Pro Evolution Soccer 2015 está funcionando bem e sem problemas técnicos relevantes, é bem fácil encontrar jogadores nas salas. Alguns modos, porém, ainda não estavam disponíveis enquanto testávamos, como a loja myClub – que venderá itens especiais e moedas para o sistema de micro-transação com dinheiro real – e os torneios online, que, segundo a Konami já avisou nos fóruns especializados, pagará uma boa porção de GPs aos vencedores.

TIMES BRASILEIROS – E ESTÁDIOS TAMBÉM!
Diferente do rival FIFA, PES 2015 manteve todos os times da série A do Campeonato brasileiro. Assim, times como Palmeiras, Corinthians e Cruzeiro contam com os uniformes e jogadores reais, incluindo alguns com rostos bem fieis aos reais. Entretanto, nem todos os clubes tem seus jogadores com nomes corretos, como é o caso do São Paulo, que apear de contar com escudo e uniforme perfeito, veio com o cabeludo Rogeio no lugar do já calvo e veterano Rogério Ceni.
Por outro lado, o tricolor tem até estádio no jogo: o Morumbi está lá, ao lado do Mineirão, do Cruzeiro e da Vila Belmiro, do Santos. É importante citar que todos estão bem realistas e impecavelmente realistas, simulando cada arame das grades das arquibancadas.
Por fim, campeonatos oficiais como a Libertadores da America, Sul-americana, Copa dos Campeões, Liga da Europa e Copa da Ásia são modos bem bacanas de se jogar, incluindo também a possibilidade de disputá-los na Master League.
Nota: 10/10
[PES 2015 é o jogo da série que todo fã estava esperando. A física e simulação do jogo é competente e se adapta perfeitamente às partidas sem comprometer o mais importante, que é a mecânica precisa e controles simples que sempre foram o ponto alto da franquia. Além disso, o jogo é lindo e faz juz aos consoles de nova geração e ainda faz bonito mesmo no PS3 ou Xbox 360 com um visual muito acima das expectativas. Ainda tem falhas, mas os erros detectados não interferem no quesito principal da série, que é a diversão das disputas multiplayer. Os fãs, finalmente, podem comemorar: o campeão de fato voltou.]