
A imensisão azul do mar e do céu...
The Witness é uma das grandes surpresas do ano. Lançado em 26 de janeiro desse ano para PC e PS4, esse indie game é um FPS de exploração que gira em torno da solução de puzzles. Alguns desafios são simples, no começo, outros são completamente infernais, fazendo você literalmente quebrar a cabeça para resolvê-los. Se você se lembrar de Braid ao jogar The Witness, saiba que não é por acaso: um dos envolvidos na criação do jogo é o Jonathan Blow, o mesmo perturbado criador daquele jogo.

Pouco se sabe da história de The Witness, mas, conforme você progride, percebe-se que algo aconteceu na ilha onde você está e petrificou todos os seres vivos do local. Poucas pistas lhe são dadas, eventualmente você encontra um gravador aqui, um player de vídeo ali, mas o conteúdo deles, ao menos no começo, diz muito pouco. Mais pra frente eles farão sentido, fique tranquilo. O que nos resta então é resolver os puzzles e relaxar com a bela paisagem.
Sobre a bela paisagem, não me entendam mal, mas digo que o jogo é artisticamente muito bonito, uma obra de arte mesmo. Tecnicamente ele é muito simples, e temos falhas grosseiras como a árvore de folhas duras ou o arbusto que não se mexe conforme é atravessado, mas isso não é relevante. Como a beleza artística do jogo é grande, conseguiram criar paisagens lindas, coloridas e pra todo lugar que você olha, você consegue enxergar uma pintura. Claro que o jogo poderia ser feito no PS3 ou, talvez, no PS2, mas temos que tirar o chapéu para os desenvolvedores, o jogo é muito bonito.

Áudio muito bem produzido!
Uma outra coisa que chama a atenção nele são os registros de áudio que são encontrados em pequenos gravadores jogados a esmo. Esses áudios são muito bem produzidos, contém textos longos e filosóficos e contam com algumas pessoas conhecidas. Por exemplo, lembram daquela cena de Pulp Fiction onde o John Travolta, o Samuel Jackson e mais um garoto estão no carro, conversando sobre blasfêmia? E que acidentalmente o personagem do Travolta dá um tiro na cara do menino no banco de trás? Pois bem, ele é o Phil LaMarr e interpreta o Marvin no filme. Ele também faz o burocrático Hermes, em Futurama. Além dele, temos o Matthew Waterson, que faz várias vozes de jogos, incluindo o vilão Alastaie D’Argyll, do The Order 1886, o sofrido Virgil de Fallout 4 e a voz do Capitão Wallace em Halo 5.
Mas não são só homens que gravam áudios em The Witness, temos presença feminina também! Lembra da Ellie, do The Last of Us? Ela é dublada pela Ashley Johnson, que fez, além dessa obra prima, a voz do Gorty em Tales from the Borderlands e é atriz de um excelente filme de 2011, chamado “Histórias Cruzadas” (“The Help”, no original, assistam, é triste e divertido ao mesmo tempo). A última é a Terra Deva, que é canta(va) em uma banda suíça chamada “Shakedown” e ficou famosa por uma música chamada “At Night”.

As vozes do jogo são bastante profissionais, e isso se deve ao fato de ter sido produzida nos estúdios da Warner Bros. Mas, infelizmente, não há música em The Witness. E não sei se uma música caberia no jogo, talvez estragasse o clima de solidão.
Mas dá pra se sentir sozinho com esses puzzles?
Qualquer solidão que você possa sentir no jogo será rapidamente substituída pela atenção máxima aos puzzles que nos serão dados. Eles parecem simples no começo, mas o jogo insiste em te dar poucas regras para você saber como resolvê-los, o que torna a solução deles um pouco mais complicada do que deveria. Alguns puzzles são desafios gratificantes, você se sentirá um cara muito mais esperto do que realmente é ao terminá-los. A experiência é muito bacana, nesse ponto o jogo é muito competente.

Ele lembra Myst!
O clima do jogo lembra bastante o clima de Myst, e isso também não é sem motivo: Eric A. Anderson, que trabalhou em alguns jogos da franquia Myst, é um dos desenvolvedores do jogo. Pense em The Witness como se Myst fosse um bom jogo. Se você conseguir pensar nisso, talvez você entenda como o jogo é divertido e monótono ao mesmo tempo. E ser monótono não é um defeito, não nesse caso.

Sobre os controles do jogo. Eles respondem muito bem, não atrapalham nunca. Mas talvez o jogo te dê um pouco de tontura, não sei exatamente o porquê, mas comigo acontecia com alguma frequência. Que eu me lembre só o Wolfenstein 3D original e o Descent me causavam desconforto. E The Witness, infelizmente, me causou um pouco de enjôo de movimento, ou cinetose. Sim, eu acabei de aprender essa palavra pesquisando por “motion sickness”.

O comentário final fica sobre o quão viciante o jogo é. Você não consegue parar de jogar até terminar todos os puzzles. E eles são muitos, então o jogo é bem longo. No primeiro dia em que eu estava jogando, minha esposa chegou do trabalho e falou “o que é isso que você tá jogando?”, quando viu o que era, ficou ao meu lado dando palpites sobre como resolver os puzzles. Jogamos tanto que ela pegou um caderno pra desenhar de modo a facilitar a solução dos quebra-cabeças. Não paramos de jogar até ver que já passava da meia noite. Não é qualquer jogo que faz isso com o jogador, então quando achamos um assim, é bom aproveitarmos.
Para finalizar, o trailer oficial do jogo:
Nota: 9/10
“The Witness é surpreendentemente bom. Os puzzles são complexos, o clima do jogo é fantástico, a produção é muito boa e os gráficos são bonitos. A ausência de música e a modelagem simples do jogo são defeitos completamente ignoráveis, especialmente se levarmos em conta quão viciante o jogo é. Eu recomendo totalmente The Witness, é uma verdadeira obra de arte.”