
Vamos falar a real: System Shock 3 foi anunciado oficialmente nessa segunda-feira (14) com um barulho até grande da imprensa , mas muitos jogadores mais novos não devem nem ter ouvido falar da série. E alguns mais velhos pode até saber, mas muitos nem imaginam que System Shock foi um jogo tão inovador para sua época que muitas de suas mecânicas foram usadas muitos anos mais tarde, no bem conceituado BioShock, de Ken Levine (a mesma mente brilhante responsável pelos dois primeiros System Shock).
Para tentar dar uma luz à essa série praticamente esquecida ou simplesmente desconhecida da cabeça de muitos jogadores, o Kapoow! vai dar uma mãozinha com uma afirmação, sem fugir da raia: System Shock é um grande FPS e não merece ser esquecido. E isso é um bom começo. Assim como ocorreu em Bioshock no início da geração passada de consoles, a criatividade de Ken Levine e dos programadores da Looking Glass e da Irrational fizeram, em meados dos anos 90, um jogo muito à frente de seu tempo e que não envelheceram tão mal assim desde que você não se preocupe com os mapeamentos de texturas primitivos originados no início dos gráficos poligonais nos PCs e videogames domésticos.
Ok, bora lá.Vamos falar um pouco sobre cada um deles agora e tentar explicar o porquê nos empolgamos tanto com a possibilidade de um terceiro jogo da série:
System Shock 1
O primeiro System Shock foi desenvolvido pela Looking Glass Technologies, empresa parceira da Electronic Arts, que desenvolveu alguns jogos famosos, como o futebol americano John Madden 93 e o combate de caças F-22 Interceptor para Mega Drive, além de vários jogos da série Ultima, para PCs.
Lançado em 1994, o enredo abordava um mundo cyberpunk na Estação espacial Citadel (Não é submarina e não é Rapture, mas trata-se de uma “cidade” fictícia) em 2072. O objetivo do jogador é desvendar e hackear os planos de um inimigo conhecido como SHODAN, a inteligência artificial das máquinas, cujo objetivo é destruir nada mais, nada menos, que nosso querido planeta Terra. Ao tentar quebrar a segurança da inteligência artificial da SHODAN, algo dá errado e ele acaba misteriosamente entrando em um coma profundo. Após seis meses, ele acorda na estação e descobre que toda a equipe local foi transformada em mutantes. Pior ainda é descobrir que as miras dos canhões de laser da estação estão voltadas ao nosso planeta e prontas para começar a destruição.
Assim como em Bioshock, SS inovou os FPS disponíveis à época em que foi lançado, pois disponibilizou uma imersão nunca antes vista em jogos do gênero. Pela primeira vez, o personagem podia olhar para cima ou para baixo, pular e se esconder. Além disso, os cenários eram completamente criados em 3D, diferentes de Doom e Wolfenstein, cuja ação acontecia em corredores com visão limitada e sem possibilidade de se olhar ao seu redor.
A liberdade de exploração dos cenários era a característica principal do jogo, que chegou a ser considerado em sua época como o mais inovador do gênero, não apenas pelos belos gráficos, mas pela criatividade e revolução proporcionada pela nova jogabilidade permeada por elementos de RPG. A desenvolvedora utilizou sua experiência em Role Playing Games da série Ultima para criar uma interface amigável e menus intuitivos e inteligentes. Os controles, inclusive, eram muito similares ao da famosa franquia da Looking Glass. O mouse era utilizado para olhar para todos os lados do cenário, mirar e pegar objetos e havia um inventório com seus itens e armas, para facilitar a utilização.
Para ajudar um pouco na batalha, o jogador podia usar itens como o Medipatch, que recuperavam parcialmente a sua energia ou o Berzerk, que aumentavam incrivelmente a força, mas causavam alucinações. Outro ponto muito criativo de System Shock era o cyberspace, uma espécie de mundo alternativo. Neste modo, os cenários eram transformados em ambientes em wireframe (estruturas polígonais sem textura aplicada). Além de diferente, este minigame proporcionava ao jogador habilitar algumas salas antes impossíveis de entrar no modo convencional.
System Shock 2
Desenvolvido pela Irrational Games e lançado pela Electronic Arts em 1999, a continuação de System Shock ficou conhecida mais pelo terror psicológico que proporcionava do que pela originalidade da obra. Mesmo não sendo tão impactante quanto o primeiro da série, SS2 colecionou uma legião de fãs em sua época pelo conjunto da obra e pela primazia técnica.
Aproveitando da essência de seu predecessor, o game une ficção científica, tiro em primeira pessoa e elementos RPG. E estes elementos aumentaram e muito as possibilidades de evolução de suas armas. Outra característica marcante de SS2 é o menu posicionado acima da tela principal do jogo, contendo todos os itens e armamentos.
A história se passa em 2114, quarenta e dois anos após os eventos do primeiro System Shock, tendo como cenário a Von Braun, criada para ser a primeira nave espacial capaz de atingir a velocidade da luz. Você é um soldado da estação espacial UNN que será transferido para a Von Braun. Após um extensivo treinamento de três anos, você é mantido em uma câmara criogênica durante a viagem para a nova nave.
O congelamento por cinco anos lhe causa uma forte amnésia, e ao acordar no ambulatório da Von Braun, você descobre que a nave foi invadida por uma estranha força alienígena. Sem lembrar de seu passado e de sua missão, o objetivo se transforma em ajudar os sobreviventes a descobrir o que realmente está acontecendo e como sobreviver a estes ataques invasores.
O horror do jogo é proporcionado principalmente pelo clima e enredo. O personagem principal é um soldado em busca da sobrevivência em uma nave espacial, infestada de alienígenas e há diversos momentos de tensão e sustos envolvendo esses seres. Há três classes disponíveis para se escolher – Marine, um soldado com habilidade de tiro, Navy, um engenheiro com habilidades de hacker e OSA, um paranormal com habilidades psíquicas, como a telecinese.
O personagem pode também adquirir melhorias em suas armas e habilidades em estações específicas e o jogo dá a liberdade para decidir como aperfeiçoar os armamentos e os poderes psíquicos. Estas mudanças podem ter desfechos diferentes conforme as decisões tomadas desde o início do jogo, o que transmite um fator replay incrível e até inovador para um título de sua época.
A busca por itens é bem parecida com o esquema conhecido dos RPGs. Em SS2, o jogador é obrigado a vasculhar gavetas e esconderijos por todos os cantos do detalhado cenário para se localizar itens como munição e medicamentos, diferente de outros jogos como Doom e Half Life, em que esses objetos são facilmente localizados, bastando passar sobre eles para pegá-los. Por fim, o jogo ainda tinha um mini-game muito divertido chamado Overworld Zero que melhoravam as habilidades do personagem, como pontaria e experiência.
Pode parecer besteira, mas a obscuridade de System Shock para boa parte dos jogadores se deve ao fato de ele nunca ter sido lançado para consoles em uma época dominada pela Sega, Nintendo e, anos mais tarde, que conhecia o fenômeno da Sony, o PlayStation. Exclusivo para PCs com poderosas e caras placas de vídeo, System Shock 2 quase quebrou essa escrita ao ser anunciado para o Dreamcast, da SEGA, no in;icio de 2000, mas os donos do console branco viram a promessa ficar só no papel um ano depois, quando a Irrational cancelou o projeto de conversão, que nem seria dos mais difíceis, já que o hardware do Dreamcast era até bem similar ao dos PCs mais poderosos de sua época e já havia dado provas disso em outros ports, como em MDK 2.
A única coisa que sobrou dessa história foi esse vídeo no Youtube, de um fã do console que conseguiu um beta praticamente injogável, de tão lerdo:
E agora? O que esperar de System Shock 3?
Essa é uma pergunta difícil. O que se sabe até agora é que a produtora OtherSide Entertainment anunciou o projeto em um site teaser, com uma contagem regressiva, mas após zerar esse marcador de tempo, tudo o que restou aos interessados em saber mais sobre o projeto é uma imagem da SHODAN, que é a inteligência artificial que já existia nos dois primeiros jogos.
Há também uma pesquisa, que entre pergunta ao jogador sobre seu conhecimento da franquia e se já jogou os dois primeiros games, além de sugerir que o jogo possa ser lançado para dispositivos de realidade virtual dependendo da empolgação do povo.
Por enquanto, uma forma de se preparar para o terceiro game é jogar os dois primeiros, que estão disponíveis no GOG.com. O primeiro, aliás, custa menos de US$ 10 e está disponível em uma versão remasterizada com gráficos melhorados. Caso tenha interesse em baixar uma versão sem DRM, esse link é o caminho!