
Havia uma revista, nos anos 90, de nome Gen 13, publicada pela Image Comics. Não dá nem para começar a lista de quantas “equipes de adolescentes super-poderosos” surgiram do nada, tentando a sorte no rastro de X-Men, principalmente lançadas pela Image, mas um dos clones mais sem-vergonhas que surgiu foi a Gen 13. A arte era linda, cheia de cores separadas por computador, personagens com roupas, armaduras e armas estilosas, mulheres esculturalmente impossíveis, cenas de ação que tomavam as duas páginas inteiras… mas sempre com um roteiro fraco, piadinhas sem graça, vilões sem carisma, abusando de todos os clichês de super-herói. Gen 13 tentava ser X-Men, mas não conseguia. Em suma, Gen 13 não passava de um carrapato gordo e faminto, doido pra encontrar a veia adolescente e descerebrada do leitor e lá se instalar, para não sair nunca mais.
Mas o que “Yaiba” tem à ver com Gen 13?
Só posso dizer: Tudo. Explicando rapidamente aos fãs de “Ninja Gaiden” – “Yaiba” NÃO É “Ninja Gaiden”. Aliás, Ryu Hayabusa está para Yaiba (o protagonista do jogo) assim como Batman está para Deadpool. O camarada é um ninja (bruto, rústico, sistemático, sarcástico, o típico “trainee de Wolverine”) que lutou com Ryu Hayabusa, perdendo um braço. Tempos depois, ele é ressucitado por um cientista maluco que lhe dá um braço biônico com super-poderes. Este cientista, por sua vez, também instalou um dispositivo que pode matar Yaiba à qualquer momento, o que faz com que o ninja ciborgue tenha que obedecê-lo, usando sua assistente (ruiva, de corpo escultural e usando roupas minúsculas) como ponto de contato com o Yaiba. O ninja recebe ordens do cientista e, quando der tempo, tentar caçar Ryu Hayabusa em busca de vingança. Detalhe: O jogo se passa em uma Moscou que sofreu um apocalipse zumbi, o qual Ryu está tentando conter.
Porque “Yaiba” Não é “Ninja Gaiden”:
“Ninja Gaiden” não é lá um primor de conteúdo em termos de roteiro, pelo menos não depois de “Ninja Gaiden Black”. O cenário do jogo sempre foi algo muito puxado para as histórias em quadrinhos. Haviam nações em guerra, governadas por monstros ou por governos tradicionais, disputando o controle da Terra. Haviam ninjas (não me diga!) e seres mitológicos à rodo, magia é uma força conhecida da natureza, naves gigantescas cruzam os céus e mestres de artes marciais se proliferam mais do que vendedores de água em dia de show de rock. Ok, se isso tudo está presente em “Yaiba”, porque ele não é um “Ninja Gaiden”? Pelo simples fato de que jogar “Yaiba” não remete de forma alguma a qualquer experiência que alguém familiarizado com os outros Ninja Gaidens já tenha tido. O jogo é um beat’em’up frenético, feito todo em cell shading e com boa música na maior parte do tempo, mas é menos técnico que os “Ninja Gaiden”, mais fácil (o que não quer dizer “muito fácil” na verdade!) e usa três armas principais: A katana quebrada, o braço biônico e a corrente, estimulando a criação de combos (bem parecido com “Devil May Cry”). Há uns poucos QTEs para andar pelo cenário e lutar com inimigos, mas as semelhanças param por aí.
O jogo se parece, em boa parte do tempo, com “Metal Gear Rising”. Se você gostou deste, vai adorar “Yaiba”. Assim como em “Rising”, você precisa acertar os combos nos inimigos para obter power ups de vida e que enchem a barra de especial. Não adianta apenas sair batendo, se não encaixar uma execução aqui ou alí, você está frito. Os chefes são bem complicados de vencer (aliás, eles fazem piada com “Metal Gear”, pois um deles é um “Metal Gear” que pensa que é cachorro), alguns beiram um nível ridículo de dificuldade, outros são bem fáceis. Os combos não são fáceis de fazer, sendo preciso um bom tempo de exercício. O timing é meio preciso e, se você errar, acaba saindo qualquer outra coisa. A árvore de perícias de evolução é bem generosa, mas como os combos são extremamente difíceis, eu vi mais vantagem em acrescentar habilidades passivas. A melhor delas, sem dúvida, é a habilidade de executar meios-zumbis (sim, você corta no meio e eles continuam atacando). As metades de cima vem se arrastando até seus pés e agarra o personagem, a metade de baixo fica andando por perto e dando chutes.
Sobre as armas:
– A espada quebrada (heartless blade): É a arma equilibrada entre velocidade e dano, rápida, é a chave para se começar combos. Também é usada pelo personagem para bloquear ataques.
– Braço biônico (bionic arm): É a arma lenta e com alto dano. Dá para encaixar até combos de quatro golpes com ele, o que costuma atordoar ou matar a maioria dos inimigos. Infelizmente não é muito boa contra chefes, pois eles sempre contra-atacam entre o primeiro e o segundo golpe, estragando seu combo. Também serve para derrubar paredes do jogo.
– Corrente (flail): É uma corrente que, no melhor estilo “Motoqueiro Fantasma”, vai ser brandida pelo personagem ao ser atacado por hordas de vários inimigos ao mesmo tempo. Provoca pouco dano, mas tem bom alcance e acerta vários inimigos ao mesmo tempo, além de servir para se deslocar pelo cenário.
– Armas Zumbi (zombie weapons): São, basicamente, zumbis ou pedaços de zumbis que você pode usar como arma. Usando a corrente, você prende um zumbi e utiliza ele como “peso extra” no ataque, ou pode arremessá-lo em inimigos. Os zumbis que carregam granadas viram bombas, os que pegam fogo viram ataque incendiário. Alguns personagens (como os famigerados palhaços!) podem ter seus braços arrancados e transformados em nunchakus, o padre ortodoxo tem sua cabeça transformada em canhão, a noiva tem a espinha dorsal transformada em chicote elétrico, e por aí vai. Não achei muita graça nestes ataques, mas eles são bem fortes e alguns tem características especiais, como dano aumentado, serem indefensáveis, etc.

O que há de tão esquisito em “Yaiba”?
Os inimigos são, todos, sem exceção, zumbis. Os diálogos entre os personagens são rasos, irritantes e cheios de piadinhas toscas. O clima do jogo não tem aquela “seriedade” de “Ninja Gaiden”. É tudo escrachado, com direito a palhaços zumbis (!), que podem ter seus braços arrancados e transformados em nunchakus (!!), que são particularmente eficazes quando usados contra as noivas zumbis com poderes elétricos (!!!). Se isso não for suficiente para te deixar em pânico, ainda tem as piadas. Ah sim, e quando eu digo que as piadas são ruins, entenda, você é que já tem mais de 15 anos, portanto, vai acabar não rindo delas. Principalmente as referências ao clip “Thriller” do Michael Jackson, afinal, todo jogo com zumbis precisa de uma referência obrigatória a esta música.
Como jogo ele nem é tão ruim, era só não ter chamado de “Ninja Gaiden”. Ninguém se importaria se chamassem o jogo de, digamos:
-“Beat’em’up do ninja que tem arte bonita e música boa, cheio de piadinhas adolescentes e sangue”
– “Jogo do Deadpool sem o Deadpool”
– “Ninja Blade 2”
– “Ninjas versus Zombies”
Não se deixe iludir pelo “Ninja Gaiden” do título:
Yaiba é apenas um beat’em’up feito pelo Team Ninja. Rápido, bonito, com árvore de skills que são liberadas conforme o personagem sobe de nível, combos, três armas, modo “berzerk” que é ativado quando o personagem enche a barra de especial, a possibilidade de fazer fatalities em personagens atordoados, piadas ruins à rodo, zumbis aos montes, puzzles bobinhos, personagens rasos e diálogos pseudo-engraçados. “Yaiba” tentou ser “Ninja Gaiden”, ofereceu uma embalagem bonita, tanto graficamente quanto musicalmente, mas assim como Gen 13 tentou ser X-Men e teve apenas um sucesso marginal, acabou não satisfazendo o público um pouco mais exigente, não justificando qualquer tipo de continuação. Se você quer um beat’em’up descompromissado e com cara de história em quadrinho, o jogo cumpre a proposta, mas não surpreende de jeito nenhum.
A parte boa do jogo é que, enquanto jogo de ação, ele prende sua atenção. A arte é bonita, a música é muito boa, e a dificuldade garantem que ele não seja um beat’em’up tão raso. Acredito que a Tecmo-Koei poderia ter feito algo melhor, mas o jogo ficou dentro da proposta, sem entusiasmar muito.
Nota: 6 / 10
Eu não sei se eu vi esse jogo pelo angulo errado, mas de certa forma eu encarei ele desde sempre como um jogo “extra” em um universo paralelo de Ninja Gaiden e não como algo inserido dentro do mesmo universo do Ninja Gaiden normal de sempre.
Dito isso, eu foquei no jogo mais como um concorrente a “Lollipop Chainsaw” do que comparando com NG, tanto pela temática quanto pela jogabilidade. E de certa forma ainda acho ele um passinho acima o concorrente.
De fato, comparado a NG, ele é bem inferior, mas se visto como um Stand Alone, acho que ele se destaca. Pena que o Team Ninja não foi inteligente em tentar criar uma nova franquia. Podia se chamar só Yaiba e colocar outro ninja como adversário que o jogo definitivamente teria notas melhores.
Mas os proprios produtores disseram que era apenas um jogo para que eles podessem relaxar e se divertir, sem a seriedade do ninja gaiden, um modo de quebrar o gelo e se preparar para o proximo ninja gaiden. Eles claramente nao queriam ser mais um ninja gaiden