“Que sua faca entorte e quebre”
Duna parte 2 é um filme como a décadas não víamos. Uma celebração do ápice atingido pela ficção cientifica, numa época em que a capacidade técnica das produções permite que, qualquer imagem ou cena criada na sua imaginação, seja capaz de ser reproduzida de forma verossímil.
O diretor Dennis Villeneuve resolveu fazer uma escolha. Dividir o primeiro livro de Frank Herbert em dois filmes. Não é uma ideia inédita em Hollywood, mas diferente de Hobbit ou Jogos Vorazes por exemplo, essa opção além de acertada foi necessária. Os livros de Duna contam uma das mais complexas e maiores que a vida historias da Ficção Cientifica e transporta-las para as telonas/telinhas é um desafio Titânico.
O Universo de Duna
Duna começa contando o relacionamento das Casas Maiores. Casa Atreides, Casa Corrino, Casa Fenring, Casa Ginaz, Casa Halleck, Casa Harkonnen, Casa Metulli, Casa Moritani, Casa Novebruns, Casa Steel.
As Casas Maiores são as detentoras de feudos planetários.
A principio, o enredo foca nas Casas Atreides, Harkonnen e sua disputa pelo controle das especiarias do deserto, um poderoso pó alucinógeno, que serve como elemento principal para que as naves (Guildas Espaciais) possam realizar viagens intergalácticas .
A Casa Atreides veio de Caladan, e a família liderada por Leto Atreides I a transformou em uma das mais respeitadas do Reino Padishah, despertando a ira do Imperador Shaddam.
A Casa Harkonnen é a arquirrival da Casa Atreides. Eles vêm do mundo altamente industrializado de Giedi Prime. A sua brutalidade e ganância criaram um governo eficaz baseado no medo.
Os Harkonnen governaram Arrakis antes de se unirem ao plano do Imperador para destruir os Atreides e controlar o planeta rico em especiaria.
Em meio a essa briga política ao melhor estilo de Game of Thrones, a religião tem um papel muito forte e ativo na condução do governo no Império. E por trás disso existe a ordem Bene Gesserit. Uma organização de espiãs, monges, teólogas e cientistas que usa métodos secretos para elevar a humanidade, criando um messias conhecido como Kwisatz Haderach. A Irmandade é liderada pela Reverenda Madre Alta, que detém autoridade suprema sobre a ordem e sua sede no planeta Wallach IX.
Além da briga pelo controle da especiaria, um outro grande problema precisa ser resolvido. A extração do pozinho magico ocorre no deserto, mais precisamente no território dos Fremen. A água desempenha um papel muito importante na cultura Fremen. Na verdade, a água vida, é até mesmo sagrada para eles. A escassez é tanta que, para evitar o desperdício, os Fremen usam trajes com sistemas completos de filtragem de água, chamados trajestiladores, que filtram a umidade do corpo de volta para consumo. Segundo a regra Fremen, a água de um Fremen pertence à tribo. Dessa forma, quando um deles morre, seu corpo é sugado de toda a agua.
Por ser obrigado a sobreviver no deserto e estar sempre em conflito, o povo Fremen se tornou também, bastante hábil no combate físico e enfrentam de igual para igual qualquer adversário. São extremamente religiosos e supersticiosos. Sua fé Zen-Sunita adotou o verme da areia como uma manifestação física de Deus. Isso somado aos recursos naturais escassos fez com que a especiaria se tornasse parte da sua dieta e cultura.
Duna Parte 2
Explicados todos os elementos, A casa Atreides foi traída pelos Harkonnen, e começou a ser exterminada. Entre os sobreviventes, o filho do Duque Leto Paul Atreides e sua mãe, a Bene Gesserit Lady Jessica, fugiram ao deserto, se juntando ao povo Fremen. Religiosos como eram, os Fremen começaram a acreditar que Paul seria o Kwisatz Haderach, o escolhido para liderar seu povo do deserto de volta ao paraíso verde.
Paul vai vencendo todas as etapas de provação e as lendas parecem verdadeiras. Até ganhou seu nome de guerra( Muad’dib -Aquele que mostra o caminho) e seu nome privado(Usul- A base do Pilar), mas é sua mãe que ascende no grupo primeiro. Se torna a Mae Superiora dos Fremen e faz uma extensa campanha para espalhar a ideia de seu filho como o escolhido. A lenda era uma invenção politica das Bene Gesserit para controle das massas mas que, inadvertidamente, começou a se tornar realidade através de Paul.
Alias um dos melhores elementos do filme foram dentro do subtexto religioso. Paul e Chani tinham visões completamente diferentes sobre o assunto. Mesmo relutante em assumir esse papel, Paul e os Freemen do Sul acreditavam na historia, já Chani e os freemen do Norte sempre duvidaram dos Dogmas.
Enquanto a historia se desenrolava no deserto, Os Harkonnem preparavam seu campeão para assumir o lugar no império. Feyd-Rautha Harkonnen foi planejado pelas Bene Gesserit do império e deveria se casar com a filha de Lady Jessica, já que o grupo religioso ordenou que Paul nascesse menina, mas Lady Jessica não aceitou. O herdeiro do Barão então, assumiu seu lugar como líder do exercito Harkonnen para exterminar os Atreides , cargo antes ocupado por seu irmão, que falhou na missão. Feyd, na corrida para ser considerando o escolhido, pessoalmente foi atrás de de Paul.
As visões de Paul, apesar de fragmentadas, indicam uma guerra santa, o que faz Paul ser tão relutante em assumir o papel de Salvador e viajar até o sul, encontrar a turma mais fanática dos Freemen. Porem, ao prever a morte de Chani, acaba cedendo. Paul é da casa Atreides, mas é neto do Barão de Harkonnen, tem todo o treinamento possível para um homem, mas também recebeu todos os ensinamentos das Bene Gesserit para uma mulher graças a sua mãe. Além disso, apesar de ser da realeza, agora Fremen, entende perfeitamente como funciona o mundo do homem comum. Somente por possuir tantos elementos, consegue sobreviver a agua da vida. Porem só acordou quando outra parte da lenda se cumpriu, e Chani, mesmo descrente, cedeu sua lagrima.
Agora conectado com passado e futuro, suas visões ficaram claras e ele assumiu seu papel de protagonista. Conseguiu atrair o imperador para Arrakis e liderou a invasão para destronar Shadam IV. Em uma das mais belas cenas de luta 1×1 já vistas no cinema, vence Fayd e derruba o império, mas ainda conectado a Casa Atreides, pede a mão da filha do imperador, numa jogada politica para que as outras casas aceitem sua sua ascensão. Isso corta o coração da já relutante Chani, que desaprovando todas as escolhas de Paul, abandona tudo e foge sozinha.
Mesmo casando com a filha de Shadam, as Casas desaprovam o acordo e rejeitam Paul, que então da a ordem aos Fremem para iniciar a guerra.
Conclusão
São quase três horas de um dos filmes mais bonitos visualmente, já produzidos em Hollywood. Greg Fraser, o responsável pela cinematografia, é o mesmo de The Batman, outra obra de arte visual.
Encarar um desafio dessa magnitude e apresentar esse resultado é para poucos. Denis Villeneuve acertou na mosca, tanto no elenco como nas escolhas para contar a historia. As cenas de ação, apesar de não serem numerosas, são executadas a perfeição. O ritmo de urgência trouxe uma dinâmica melhor do que o tom de apresentação do primeiro. As intrigas, os comentários politico/religiosos e as surpresas deixaram minha sessão de cinema, quase lotada, em absoluto silencio por quase 3 horas. Duna: Parte 2 é uma surpresa por continuar uma historia e melhora-la em todos os aspectos possíveis. Timothée Chalamet é um astro em ascensão, assim como Zendaya.
Sem esforço, você consegue encontrar similaridades ou elementos de outras sagas como Matrix, Star Wars, Lawrence da Arabia entre outros mas a pergunta que vai te fazer pensar é quem copiou quem?
Algumas mudanças na história em relação ao livro, principalmente no arco de Alia, a irmã de Paul, mas com tudo acontecendo de forma orgânica, não machucou o enredo.
Será que Paul, agora totalmente conectado com a ideia de ser o escolhido, passará de herói a vilão? Essa é a grande pergunta que o filme deixa, com pistas de que Chani terá que assumir o papel de salvadora do Salvador.
Duna: Parte 2
2024
Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Josh Brolin, Rebecca Ferguson, Florence Pugh
Estúdio: WBD
Direção: Denis Villeneuve
NOTA: 9.6